O falecimento de Jô foi comunicado por Flavia Pedras, ex-mulher do apresentador, pelo Instagram. Na postagem, ela diz que o humorista morreu “cercado de amor e cuidados” e que o funeral será restrito aos familiares e amigos.
José Eugênio Soares nasceu no Rio de Janeiro no dia 16 de janeiro de 1938. Além de apresentador de televisão e humorista, Jô foi escritor, diretor e ator. Em mais de 60 anos de carreira, Jô criou mais de 200 personagens, incluindo alguns dos mais marcantes do humor brasileiro, e realizou 14 mil entrevistas.
Sua estreia na televisão foi em 1956, aos 18 anos, no programa Praça da Alegria, da Rede Record, onde trabalhou por 10 anos. Na TV Globo, estreou em 1971 no humorístico Faça Humor, Não Faça Guerra. Já seu primeiro programa foi Viva o Gordo, que estreou em 1981 e ficou no ar até o final de 1987.
Ele deu início à carreira como apresentador no SBT com o programa Jô Soares Onze e Meia, que foi ao ar entre 1988 e 1999. Em 2000, estreou, na Rede Globo, o Programa do Jô, encerrado em 2016. O programa é considerado até hoje um dos mais famosos talk-shows do Brasil. Desde 2016, era o ocupante da cadeira número 33 da Academia Brasileira de Letras.
Jô estreou no cinema em O Homem do Sputnik (1959), de Carlos Manga, em que interpretava um americano na chanchada estrelada por Oscarito. Ele também atuou como jornalista, escrevendo para as revistas Manchete e Veja e para os jornais O Globo e Folha de S.Paulo. O artista ainda trabalhou no teatro, atuando em montagens importantes como O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.
Ele também dirigiu montagens como Os Sete Gatinhos (1961), de Nelson Rodrigues, O Estranho Casal, de Neil Simon, com Lima Duarte e Francisco Milani, Romeu e Julieta (1969), de William Shakespeare, Ricardo III, também de Shakespeare e pela qual ganhou o Prêmio Qualidade Brasil, e Às Favas com os Escrúpulos (2007), de Juca de Oliveira. Jô ainda estrelou diversos espetáculos de humor, desde Ame um Gordo Antes que Acabe (1976) até Na Mira do Gordo (2007). Em 2014, dirigiu Julia Rabello e Marcos Veras em Atreva-se.
Há quatro anos, Jô lançou sua biografia, O Livro de Jô — Uma Autobiografia Desautorizada, com texto de Matinas Suzuki Jr., em que contava passagens de uma vida fantástica — de adolescente de família rica que vivia no hotel Copacabana Palace e estudava na Suíça ao início da carreira de ator com os típicos perrengues. Foram dois volumes no total, mostrando Jô como testemunha de grande parte da cultura brasileira. Em 2019, o livro ganhou uma adaptação para o teatro, batizada de O Livro ao Vivo.
— Sou a soma do que devo aos meus pais, Mercedes e Orlando, e também aos meus amigos — contou ele, em entrevista na época. — O livro é fruto do conjunto desses encontros.
O jovem Zezinho, como era conhecido, sonhava em ser diplomata e, como preparação nos estudos, tornou-se poliglota, sendo fluente em cinco idiomas: português, inglês, francês, italiano e espanhol, além de arriscar com certo talento o alemão.
Já o autor Matinas Suzuki Jr. entregou em conversa com o jornal O Estado de São Paulo:
— As lembranças mexeram com ele. Muitas vezes, além de chorar, Jô interrompia a conversa para telefonar para a pessoa da qual falávamos.
Muito lembrado pela carreira na televisão, Jô Soares deixa sua contribuição em pelo menos 10 livros, tendo O Xangô de Baker Street, de 1995, que virou filme, e O Homem que Matou Getúlio Vargas, de 1998, como os mais populares. Em 2005, lançou Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, da qual passou a fazer parte anos depois.
Dos seus personagens mais inesquecíveis, datados desde os tempos de Viva o Gordo, integram a lista tipos como Bô Francineide e sua pornô-mãe, interpretada por Henriqueta Brieba; Venturoso, enviado por Portugal para avaliar a ex-colônia; Vovó Naná, velhinha que queria trabalhar na televisão; Zé da Galera, que ligava de um orelhão para dar palpites na Seleção dirigida por Telê Santana; Ciça, a rechonchuda do quadro Vamos Malhar?; e o Capitão Gay, super-herói parceiro de Carlos Suely.
Embora discreto com a vida pessoal, Jô Soares compartilhava o drama da perda de seu filho Rafael, que morreu em 2014, aos 50 anos. Rafael enfrentava um câncer no cérebro, contra o qual lutou por mais de um ano. Fruto do primeiro casamento de Jô Soares com a atriz Teresa Austregésilo, ele também sofria de autismo de alto nível.
Além de Flávia Pedras, Jô foi casado com Therezinha Millet Austregésilo, mãe de Rafael, e com Sílvia Bandeira.