Padre Adler Trindade, da Comunidade Católica Shalom, comenta a representatividade da Quaresma(foto: Arquivo pessoal)
Padre Adler Trindade, da Comunidade Católica Shalom, comenta a representatividade da Quaresma(foto: Arquivo pessoal)

“A Quaresma é um tempo litúrgico especial no qual a Igreja se prepara para celebrar o mistério mais importante da fé cristã: o mistério pascal”, descreve o padre Adler Trindade, sacerdote e missionário da Comunidade Católica Shalom. Em outras palavras, o período de quarenta dias que antecede a Páscoa é, sobretudo, simbólico e faz referência à história de Jesus Cristo que, na tradição bíblica, jejuou no deserto por 40 dias antes de sua crucificação.

A Quaresma inicia-se na Quarta-Feira de Cinzas e finaliza na Semana Santa (2 de março até 14 de abril) e o seu nome vem do termo Quadragesima que, em latim, significa “quarenta dias”. A data e as práticas que a envolvem são realizadas por fiéis de tradição católica, da Igreja Ortodoxa, da Igreja Anglicana e da Luterana. No Brasil, apesar dos cristãos evangélicos terem a Bíblia como livro base, as penitências da Quaresma não são cumpridas.

Para o padre Adler, a espiritualidade do período é marcada pelo convite ao arrependimento e conversão. “É com esta intenção que na inauguração do tempo quaresmal, durante o rito da imposição das cinzas, é proferida a fórmula: ‘convertei-vos e crede no Evangelho’. É um tempo propício para fazer penitência“, diz.

A penitência é definida pelo catecismo católico como uma “reorientação radical da vida por inteiro, um regresso, uma conversão a Deus de todo o coração, que comporta uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal, com repugnância pelas más ações cometidas, e que implica, simultaneamente, o desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda da sua graça”.

“Não adianta práticas exteriores somente, se não está disposto a mudar de vida, a ser uma pessoa melhor, mais santa”, explica o sacerdote, ressaltando que o que precisa ficar claro é a sinceridade pela conversão.

Ele exemplifica falando sobre os jovens que resolvem se abster do uso das redes sociais durante o período. Essa e outras penitências precisam ser permeadas de sentido. O que a pessoa escolhe fazer durante o tempo que costumava usar as redes sociais, por exemplo, deve ser levado em consideração para o cumprimento de um propósito maior. “Quando abrimos mão de alguma coisa, dizendo ‘não’, estamos fortalecendo nossa vontade para dizer não a tudo aquilo que não agrada a Deus”, afirma o padre.

Penitências como caminho para entender o mistério da cruz

A estudante de Administração Lindenês Marinho conta que, desde que se “entende por gente”, sua família realiza penitências durante a Quaresma. “Nas quartas e sextas, não comemos qualquer tipo de carne, a não ser peixe e ovo. Não tendo nem um nem outro, é apenas o básico: arroz e feijão”, diz.

Aproximando-se da Semana Santa, ela e seus familiares se preparam para viver a Páscoa, o que ela intitula “mistério de amor”. Conforme os mais antigos de suas família, tudo deve ser preparado até Quinta-Feira Santa, antes da missa, pois na sexta não se pode fazer nada. “Minha mãe conta que os mais velhos não tomavam banho, nem escovavam os dentes, nem penteavam os cabelos, mas hoje em dia, para quem viver no Ceará, deixar de fazer o básico não é possível (risos)”, relata Lindenês.

Moradora do município de Caridade (CE), ela e sua família possuem raízes católicas fortes e uma vivência de Quaresma enraizada. Além das penitências mais comuns, Lindenês introduziu outras ao longo do tempo, como não beber refrigerante e não comer o sushi, uma de suas comidas prediletas; bem como trabalhar o perdão, ir à missa diária e fazer uma confissão semanal. “Penitências que, ao longo dos anos, fui entendendo que era preciso incluir para entender o mistério da cruz”, ressalta.

Hoje, ela diz ver dentro dessas vivências um aprendizado e, com cada “mini-sacrifício”, sente a oferta de Jesus na cruz e ressuscita junto com ele. “O que é um dia sem carne diante daquilo que Jesus passou por nós?”, destaca a estudante.

 

 

 

Nordeste Notícia
Fonte: O Povo

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