O podcaster Monark, que apresenta o “Flow Podcast”, defendeu na segunda-feira (7) a criação de um partido nazista no Brasil, dizendo se tratar de uma questão de liberdade de expressão. O programa recebia os deputados Kim Kataguiri (Podemos-SP) e Tabata Amaral (PSB-SP).
Em uma discussão sobre regimes “radicais” de direita e esquerda, Monark saiu em defesa do antissemitismo. “Se o cara quiser ser antijudeu, eu acho que ele deveria ter o direito de ser”, disse. Tabata Amaral classificou a declaração como “esdrúxula” e disse que a liberdade de expressão termina quando se manifesta contra a vida de outras pessoas, destacando que o nazismo representa um risco para a população judaica. “De que forma?”, perguntou Monark.
A veiculação de símbolos ou de propaganda relacionados ao nazismo é crime previsto em lei federal e descrito na Constituição como inafiançável e imprescritível. A lei brasileira também proíbe a criação de um partido nazista junto à Justiça Eleitoral.
Kim Kataguiri afirmou na conversa achar errado que a Alemanha tenha criminalizado o nazismo depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), durante a qual o governo nazista liderado por Adolf Hitler promoveu o extermínio de milhões de judeus e outros grupos. O deputado também se queixou de partidos comunistas terem mais espaço na imprensa que defensores do nazismo – uma comparação que não se sustenta, uma vez que partidos como o PCdoB não pregam a exclusão de minorias étnicas e hoje jogam dentro das regras da democracia brasileira.
As declarações foram amplamente repudiadas. Nesta terça-feira (8), o grupo Judeus pela Democracia criticou o argumento de Monark da “liberdade de expressão” ilimitada e disse que “ideologias que visam a eliminação de outros”, como o nazismo, “têm que ser proibidas”. A Conib (Confederação Israelita do Brasil) também se manifestou:
“O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera ‘inferiores’. Sob a liderança de [Adolf] Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias. O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica”
Confederação Israelita do Brasil em nota divulgada à imprensa nesta terça-feira (8)
Nas redes sociais, cresceu a pressão para que patrocinadores do “Flow Podcast” retirem recursos do programa. Até agora, ao menos cinco marcas encerraram contratos ou pediram para serem retiradas de ações do podcast (mesmo não sendo atuais patrocinadoras), como Puma, iFood e Mondelez. Após a repercussão, Monark pediu desculpas, dizendo que errou e estava bêbado. “Peço perdão pela minha insensibilidade”, afirmou em vídeo nesta terça (8).
PGR vai investigar Kim Kataguiri e Monark por apologia ao nazismo
Após diversas representações ao Ministério Público Federal (MPF), o procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou, nesta terça-feira (8/2), a abertura de uma investigação para apurar a prática de eventual crime de apologia ao nazismo pelo deputado federal Kim Kataguiri (DEM/SP) e pelo ex-apresentador do Flow Podcat, Bruno Monteiro Aiub, conhecido como Monark.
Segundo a PGR, as acusações serão analisadas pela assessoria criminal de Aras, haja visto que o parlamentar possui foro privilegiado. Ainda que não possa se posicionar sem que tenha transcorrido a apuração, Aras reiterou que o discurso de ódio deve ser repudiado.
“Todo discurso de ódio deve ser rejeitado com a deflagração permanente de campanhas de respeito à diversidade como fazemos no Ministério Público brasileiro para que a tolerância gere paz e afaste a violência do cotidiano”, frisou.
Nordeste Notícia
Fonte: Nexo Jornal