“Eu estou aqui porque não tem quem cuide de mim, mas sou muito feliz aqui dentro”. As palavras ditas por Dona Raimunda Andrade, de 85 anos, refletem a rotina de quem vive na Casa de Nazaré, uma instituição filantrópica que acolhe idosas em Fortaleza. Agora, com a proximidade do natal, uma iniciativa do Grupo Memorial de Fortaleza busca levar conforto e alegria às mulheres, com a campanha “Quero ser o Papai Noel da Vovó”.
Dona Raimunda diz que já ganhou muitos presentes valiosos em natais anteriores e, para este, espera algo mais simples. “Eu fico sem saber o que pedir, mas se alguém quiser gastar dinheiro com uma rede, eu quero. Eu fico encabulada, eu gosto de receber tudo que me dão, mas não gosto de ficar pedindo. Já ganhei ventilador, liquidificador… mas eu não peço, não. Me dão sem eu saber”, completa.
Dona Socorro Costa tem 90 anos e é conhecida como “bonequeira” pelas outras moradoras por produzir bonecas para vender. — Foto: Helene Santos/SVMDona
Outra moradora do abrigo, Dona Socorro Costa goza dos seus 90 anos com muita saúde. Conhecida como “bonequeira” pelas outras moradoras, a maranhense está na Casa de Nazaré há 20 anos e leva a rotina de produzir bonecas para vender e conseguir pagar suas contas.
Para o natal deste ano, a idosa afirma não ter grandes pedidos. A gratidão por ter encontrado no abrigo um lar se expõe nas palavras dela. “Esse negócio de Natal, e estar pedindo… não gosto muito. Eu acho a vida de hoje tão difícil, que eu tenho até pena de pedir. A gente sabe que as pessoas se esforçam para ter o dinheiro delas, para ainda ter gente pedindo. Ano passado eu ganhei uma colônia e um frasco de água benta”, diz Dona Socorro.
Irmã Jozenira, uma das responsáveis pela Casa, afirma que o número de doações para o abrigo é alto, mas ainda não é suficiente. “Nós arrecadamos muitos alimentos e roupas, mas ainda é necessário mais. Além disso, precisamos muito de fraldas, de café, mas agradecemos demais a ajuda da sociedade, pois são muitas doações”, comemora.
Segundo irmã Jozenira, os pedidos para o Natal são simples, mas causam grande felicidade nas moradoras. “Elas pedem colônias, bonecas, material de higiene pessoal, camisola, mas eles vão vendo, além dos desejos, as necessidades delas”.
Relação com a família
Tanto Dona Raimunda quanto Dona Socorro têm a sorte de, mesmo no abrigo, ter os familiares por perto. Nenhuma das duas casou, mas são acompanhadas de perto pelos sobrinhos, que semanalmente fazem visitas ao abrigo. “Eles vêm quando podem, e eu entendo quando demoram. Afinal, cada um tem sua vida e, na correria de hoje, é muito difícil tirar um tempo para fazer algo que não seja trabalho”, afirma Raimunda.
A convivência no abrigo cria laços familiares entre as idosas. “Algumas têm familiares, mas muitas não casaram, não criaram um vínculo familiar. Algumas famílias vêm, levam para o final de semana, mas outras não têm. Somos nós, que cuidamos, que criamos essa família”, explica irmã Jozenira.
Abrigo
A Casa de Nazaré completou 78 anos no mês de dezembro deste ano. O local é o lar de 42 idosas que, por motivos diferentes, procuram um abrigo para descansar durante a terceira idade. Jozenira explica que o local só atende mulheres por conta da estrutura. Segundo ela, o Ministério Público exige, para atendimento de homens e mulheres, um abrigo com duas alas separadas, estrutura que não está dentro da capacidade do abrigo.
Além disso, a religiosa fala que a influência católica do local corroborou com o fato de apenas mulheres serem abrigadas. “Antigamente, tinha toda aquela cultura de que os padres abrigavam os idosos homens, enquanto as freiras ficavam com as mulheres. Até hoje, meio que se manteve. Muitos homens vêm procurar o abrigo para morar, mas a gente realmente não tem condições de atender, até pela estrutura”.
Para a campanha de apadrinhamento de natal, doações podem ser feitas, até o dia 10 de dezembro, no Memorial Funeral Home, no bairro Papicu, e na Cred Urna, funerária localizada no Bom Jardim. Os presentes serão entregues às idosas em 12 de dezembro.
E a qualquer momento o abrigo aceita doações, que podem ser feitas por telefone, no número (85) 3494-6164; ou pessoalmente, na Rua Padre João Piamarta, 415, no Bairro Montese, em Fortaleza.
Nordeste Notícia
Fonte:G1