A filha de 10 anos pulou do andar superior da casa para fugir de estupro do pai, no bairro Granja Lisboa; o homem fugiu e ainda não foi encontrado pela polícia
SEGURANÇA
A criança de 10 anos que se jogou do primeiro andar de casa para fugir de estupro do pai, no bairro Granja Lisboa, em Fortaleza, passou por horas de agressão e violência sexual, conforme relato da mãe da vítima. Apesar de reconhecer que o pai da menina sempre foi “agressivo” e “perigoso”, a mulher afirma que não teve “nenhuma desconfiança do que pudesse acontecer, porque ele aparentava ser um pai excelente”. O casal é separado e a mãe não estava na residência onde o crime ocorreu.
“Demonstrava ser carinhoso, se preocupava, inclusive ela tinha um sentimento grande por ele. Ela se preocupava com ele, esperava chegar o final de semana pra que ela pudesse tá com ele. Sempre ele pegava ela na sexta à tarde, ou então depois do colégio, e devolvia no domingo pra que ela fosse pra aula a segunda-feira. Isso tudo com consentimento. Eu consentia por aquela liberdade que ela tinha com ele, por ela nunca ter me falado nada. Ele nunca agrediu ela. Eu confiava plenamente”, contou a mãe.
Asfixia e agressões
Ao narrar o que viveu na madrugada do domingo (8), a criança disse para a mãe que o pai a “asfixiava” e “subia em cima dela com o joelho”, além de passar a mão em seu corpo sem o consentimento dela. A menina chegou a gritar pedindo socorro, mas, segundo a mãe, vizinhos da casa acharam que se tratava de uma briga de casal e por isso não chamaram a polícia. O suspeito fugiu após o fato e ainda não foi encontrado.
A filha ainda contou que, enquanto o pai a asfixiava, ela achava que ia morrer.
“Ela já tava se sentindo morta porque quando ele asfixiava ela, ela sentia um desmaio, ela saía de si, ela disse. Ela sentia que ia morrer. Ela ‘papai, para com isso, você vai me matar, eu vou morrer’”, reproduz a mãe.
Vizinho que socorreu criança de 10 anos diz que pai tentou convencer filha a voltar para casa
Depois de se jogar da varanda, a criança rastejou até a casa de um vizinho, que a acolheu e acionou a polícia. A menina afirmava que o pai queria “estuprar” e “matar” ela.
“Pela manhã, ela me falou que umas 5h ela tentou ser amigável com ele, que ele tava transtornado, que concordaria com tudo aquilo que ele tava sugerindo a ela. Ela disse que não ia mais gritar, que ele podia parar de sufocar ela, tapar a boca dela. Então ele foi até a cozinha, nu, e nesse momento que ele foi à cozinha ela disse que sentiu desespero, que achou que ele ia pegar uma arma, alguma coisa pra ‘tentar’ contra a vida dela. Ela disse que não pensou duas vezes antes de se jogar pra baixo. Que o que ela não queria que acontecesse era uma imundice do pai dela tocar ela”, relatou a mãe.
O pai chegou a ir até a residência do vizinho falar com a menina. Segundo o vizinho e relato da própria filha à mãe, o pai dizia que ela estava o prejudicando com aquela atitude, que ela estaria “só sonhando”.
Estupro de vulnerável
A criança passava o fim de semana com o pai quinzenalmente depois da separação do casal. A mãe fugiu de casa por causa da violência do suspeito e conseguiu, depois de um acordo informal com ele, o direito de voltar a ver a filha. No domingo, ela estava em casa, no Bairro Bom Jardim, quando foi avisada pela polícia de que a filha estava no Instituto Doutor José Frota (IJF), onde foi internada. A criança não teve fraturas, mas ainda sente dores no corpo.
“Eu encontrei ela num estado, que assim…eu como mãe, no momento passei mal quase. Mas tive que ser forte, tive que dar assistência à minha filha, mostrar que eu era forte porque ela tava demonstrando um exemplo de fortaleza também. Somos só eu e ela. Eu por ela, ela por mim, como a gente sempre combinou. A gente é muito amiga.”
Apesar de não conseguir dizer as palavras durante a entrevista, a mulher confirma que o homem chegou a acariciar a filha, o que, pela lei, configura estupro de vulnerável.
“Ela me contou que antes do que aconteceu eles assistiram filme juntos, tava tudo bem. Nessa noite do sábado para o domingo, ela disse que o pai dela se encontrava em casa com um amigo que foi deixar eles dois na casa dele. Ela me contou que ele tava muito agitado, que ele ficou nu dentro de casa o tempo inteiro. Que ele começou a…eu não tenho como falar do assunto porque me causa uma dor muito grande. Eu não consigo nem contar, mas é o que vocês já sabem que possa acontecer com uma pessoa que tem uma criança vulnerável em suas mãos”, diz.
Sem sequelas físicas
A criança não teve fraturas com a queda, mas ainda sente dores no corpo e está sendo medicada. Segundo a mãe, ela não está frequentando a escola por medo do que as pessoas possam falar sobre o assunto, e de que o pai apareça no local.
“A minha filha está muito abalada, ela não consegue ir ao banheiro sozinha, não consegue andar sozinha. Tudo eu tô tendo que ajudar ela, auxiliar ela. Tô dando comida na boca porque ela não tá conseguindo se mover devido à queda. Ela não fraturou nada, mas tá muito dolorida, tomando medicamento pra que amenize. Não tá indo pro colégio porque não tem condições. Ela deseja voltar às aulas, mas tem receio de julgamento, de que o pai dela possa aparecer na porta do colégio pra se vingar”, comenta.
‘Me senti incapaz de proteger’
A mulher tentou ter a guarda da filha pela Justiça, mas não levou o processo à frente após conseguir se entender com o pai e voltar a ficar com a criança.
“Eu me senti incapaz de proteger, porque cedi ela pra ir até a casa dele”, desabafa.
Segundo a mãe, apesar de ter sofrido muitas agressões, ela perdoava com esperança de que pudesse “ter uma família”.
“Saí de casa porque ele era violento, ele era uma pessoa que sempre manipulava. Ele brigava comigo, me torturava, me batia, mas depois manipulava toda aquela situação e queria tá certo como sempre. Não sei com que consciência eu fazia isso, mas inúmeras vezes eu perdoava, tentava de novo. Ficava imaginando que ele poderia ser um pai pra minha filha, coisa que eu não tive eu queria passar pra minha filha. Ter uma família, uma pessoa que me apoiasse, criar ela. Uma pessoa que eu achei que ele poderia ser.”
Ela e a família têm medo do homem, que já os ameaçou diversas vezes e, por isso, não procuravam a polícia. Agora ela aguarda resposta da Justiça após solicitar medida protetiva contra o suspeito.
“O caso da minha filha poderia ser outro, igual a esses que acontecem. Minha filha é uma criança indefesa. Eu quero justiça, eu quero que ele seja pego pra eu ter paz novamente.”
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente. A polícia fez buscar para tentar localizar o suspeito, mas, até as 18h desta quarta-feira (11), ele ainda não havia sido detido.
Nordeste Notícia
Fonte: Diário do Nordeste