O número de notificações de HIV no interior cearense cresceu no primeiro semestre deste ano se comparado a igual período do ano passado. De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), foram 219 novos casos notificados nas 18 regionais de Saúde do interior do Ceará, o que representa aumento de 2,34% em relação aos primeiros seis meses de 2018.

Na regional de Crateús, em 2019 foram registradas 16 notificações, sendo quatro a mais do que os casos registrados no ano anterior.

Conforme análise do Núcleo de Dados do Sistema Verdes Mares, 10 regionais apresentaram crescimento no índice e em uma (Limoeiro do Norte) houve estabilização em ambos os períodos. A maior expansão foi verificada na Regional de Camocim, quando os casos de notificações saltou de dois para nove. O crescimento foi de 350%. Em seguida, aparecem as Regionais de Icó, com aumento de 250%, e Tauá, que apresentou incremento de 166,67%, o que representa um aumento de cinco casos comparado a 2018.

Este cenário de ampliação nas notificações na maioria das regionais de saúde do interior deve-se, segundo a articuladora do grupo de trabalho de IST/Aids da Sesa, Telma Martins, ao aumento da oferta de testes rápidos. “Quando há uma maior oferta de testes, consequentemente acabam surgindo mais casos também. São pessoas, por exemplo, que nunca haviam feito o teste na vida e acabam se descobrindo portadoras de HIV”. Telma Martins também destaca que, “qualquer epidemia apresenta um ápice em determinado período. No caso do HIV, observamos esse aumento neste último ano, porém, neste mesmo período, vimos uma redução nos casos de Aids, o que mostra que as pessoas estão se descobrindo com o vírus precocemente”. Este cenário, que é atribuído ao avanço do quantitativo dos testes rápidos no interior, é comemorado pelos especialistas, pois o diagnóstico precoce está proporcionalmente ligado à qualidade de vida que o infectado terá. “Os pacientes estão chegando até nós, no Centro especializado, quase que assintomáticos, devido ao acometimento recente. Isso é fundamental, pois o início do tratamento é imediato e, em muitos casos, em seis a oito meses o paciente já está com uma carga viral quase que indetectável”, detalha a diretora do Serviço de Infectologia de Juazeiro do Norte, na região do Cariri, Geni Oliveira Lopes.

Medidas

Além de expandir a oferta de testes imediatos, a Secretaria da Saúde do Estado apontou como outras medidas para declinar o índice de notificações no interior cearense o acesso ampliado ao tratamento que resulta diretamente na redução da transmissão do vírus, além da ampliação da oferta de insumos de preservação. Essas ações foram adotadas pela Secretaria de Juazeiro do Norte. Com as medidas, o Município conseguiu frear o avanço das notificações que vinham sendo observadas consequentemente nos últimos anos. “O Centro especializado também tem atuação importante, por garantir um atendimento mais amplo ao paciente”, destaca Geni. Já a cidade vizinha de Crato foi além da estagnação dos casos. No primeiro semestre deste ano, o Município apresentou redução de 84% nas notificações, se comparado a igual período de 2018. Esta foi a maior queda verificada em todas as 18 regionais de saúde do Estado.

Ceará

O cenário geral, quando observadas todas as 22 regionais de saúde, se inverte. Nos primeiros seis meses deste ano, o número de notificações de HIV no Estado teve redução superior a 11%. No primeiro semestre de 2018, a Sesa havia identificado 884 notificações e, em igual período deste ano, foram 785 novos casos confirmados de HIV. As maiores cidades da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) são as responsáveis pela inversão deste quadro. A capital cearense, sozinha, reduziu em 24% o número de notificações de um período para o outro, saindo de 515 casos para 391. Caucaia (38%) e Maracanaú (36,8%) foram outros dois municípios da Região Metropolitana que também registraram queda no número de notificações.

Mundo

A redução apresentada no Estado segue o perfil que fora observado no País. De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), cerca de 1,7 milhão de pessoas em todo o mundo foram infectadas pelo vírus em 2018. O quantitativo é 16% inferior ao número identificado no último levamento da Unaids, em 2010. O documento, divulgado no mês passado, revela ainda um estudo avançado para que se tenha, até o próximo ano, 90% das pessoas com HIV devidamente diagnosticadas, 90% delas realizando tratamento com antirretrovirais e, deste grupo, 90% com carga viral indetectável. Essa estimativa, na avaliação de Geni Lopes, não só é palpável como está próxima de acontecer em algumas cidades do interior, como é o caso de Juazeiro. Na maior cidade do Cariri, houve, nos últimos dois anos, aumento na oferta da Profilaxia Pós-Exposição (EPE) ao HIV. Essa é uma medida de prevenção de urgência à infecção pelo HIV, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), consiste no uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir essas infecções. “Os resultado são magníficos. As pessoas estão conseguindo viver com excelente qualidade”, pontua Geni. Essa realidade, no entanto, outrora não era experimentada. Há 17 anos, a professora Ligia Custódio se descobriu soro positivo. “Na época, era como se fosse uma sentença de morte”. Hoje, ela avalia que com “o avanço das políticas públicas inclusivas e a mudança cultural, já se é possível viver com dignidade e continuar sonhando”.

Nordeste Notícia
Fonte: Sertões de Crateús/Diário do Nordeste

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