Os estelionatários têm a capacidade de se reinventar e aplicar novos golpes. Nos últimos dias, três práticas criminosas pelo celular estão em alta no Ceará e fazem vítimas diariamente, segundo o titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), da Polícia Civil, delegado Jaime de Paula Pessoa Linhares. “Temos que ter a consciência de que os golpistas hoje têm muito mais domínio com relação a essas ferramentas que estão colocadas para o uso geral”, alerta.
Um dos golpes, conhecido como SIM Swap (que significa a troca do chip do celular), consiste em ludibriar a operadora telefônica. O criminoso se passa pela vítima e tem acesso a dados pessoais, que são utilizados para obter vantagens financeiras.
Um dos aplicativos mais utilizados, o WhatsApp é alvo de dois golpes. Um deles se dá por um número enviado por SMS (mensagem direta para o celular) e os contatos mais próximos da vítima também se tornam alvos do estelionatário. O outro ocorre através do envio de um link fraudulento, que leva para um site preparado para extrair dados pessoais da vítima.
“São golpes que o estelionatário procura agir com valores menores, R$ 1 mil, R$ 2 mil. Justamente para não chamar atenção. Ele tem um curto intervalo de tempo para que possa ter sucesso com a aplicação dos golpes”, analisa Jaime Linhares.
O delegado comenta que, pouco tempo depois, a vítima costuma perceber que caiu no golpe. “A primeira precaução é, quando você tiver ciência de que está sem a linha telefônica, sem um aplicativo, comunique imediatamente à Polícia, faça o registro na Delegacia mais próxima. Também faça o comunicado ao banco que tem seus dados no telefone e dê a notícia às pessoas, aos seus contatos”, orienta.
VÍTIMAS
A Polícia Civil não contabiliza o número de ocorrências de golpes específicos porque todos os casos são registrados como estelionato. Uma das centenas de vítimas, nos últimos meses, foi o deputado estadual Acrísio Sena, que clicou em um link fraudulento.
“Eles entram pedindo a você a atualização de algum dado. Você termina não prestando atenção, (pensa) que é algo sério e passa seus dados. Quando cliquei, já perdi o WhatsApp, que passou para o controle dos bandidos. É uma sensação muito ruim. Você vê as pessoas dialogando com o criminoso como se fosse você e você não consegue fazer nada”, revela.
O político teve a ajuda de amigos da área de Tecnologia da Informática (TI) para rastrear o criminoso. “Felizmente, conseguimos contê-lo, mas ele ainda conseguiu lesar uma jornalista que trabalhava comigo. Ela transferiu o dinheiro para uma conta de um laranja aqui de Fortaleza. O cidadão (suspeito) já estava na boca do caixa para retirar o dinheiro. É tudo muito rápido. Contactamos o gerente do banco para bloquear futuros repasses para a conta do criminoso”, completa.
Marcos Monteiro, perito forense computacional, foi o responsável por ajudar o deputado. Ele conseguiu contra-atacar o golpista usando a mesma arma que usam contra nós: engenharia social. “O deputado me procurou e eu fui investigar. Eu entrei em contato com o criminoso me fazendo passar como alguém que não sabia do acontecido. Eu disse: sabe aquela grana que estou te devendo? Quero te pagar agora. Aí ele disse ok, então me paga. Eu: para qual número? Ele: esse aqui. Aí eu disse: cara me confirma se essa é minha dívida com você? Aí enviei um link com um arquivo com dividendos. Na verdade é um software que eu desenvolvi que resgata informações de quem clica como: IP, informações do aparelho e em alguns casos tira fotos do indivíduo, geolocalização. Ele clicou, até mais de uma vez, e na mesma hora eu descobri o IP e consegui o endereço dele e soubemos que ele estava em Natal/RN. E pessoas no resto do Brasil com funções diferentes. A melhor forma de combater um engenheiro social é com engenharia social. Se a gente finge que a confiança foi conseguida, só de fingir isso, você já está fazendo engenharia social. E aí é mais fácil a gente aplicar um golpe nele do que ele na gente”.
Já o comerciante Francisco Esperidião Sales teve o WhatsApp roubado. O criminoso se aproveitou de um anúncio da venda de um produto feito pela vítima em outro aplicativo, o OLX, para se passar por um funcionário da plataforma, abrir uma mensagem com Esperidião e solicitar que ele atualizasse a sua conta. O comerciante precisava apenas dizer um número que chegou na caixa de SMS do celular. Foi o suficiente.
“Foi uma coisa rápida, de segundos. Ele (criminoso) já foi mandando mensagens para meus amigos (no WhatsApp). Os amigos ligando para minha esposa, perguntando se estava tudo bem. Foi na hora que eu caí na realidade que tinha sido ‘clonado’. Ele já estava pedindo dinheiro emprestado, cartão”, lamenta.