Com a mão direita, Gilberto empunha o boneco protagonista das brincadeiras Baltazar (Foto: José Vanucci Evaristo Vieira/ Divulgação)

Nascido há 76 anos, Gilberto Ferreira de Araújo agregou a seu sobrenome o ofício que, somente em 2006, o tornaria Mestre da Cultura no Estado: Calungueiro. Bom de conversa e contador de causos como ele só, o cearense já foi de um tudo – seresteiro, camelô, pescador etc -, mas foi por debaixo das empanadas (tecido que cobre os mamulengos) que ganhou notoriedade de Norte a Sul. “Em Icapuí é difícil haver quem não saiba dele, quem não o tenha visto botar calunga. Nasci aqui e minha família sempre foi envolvida com cultura; meu pai Ray Lima e minha mãe Regina Lima realizavam trabalhos na cultura da cidade nos anos 1990”, relata Jadiel Lima, 24.

Cenopoeta, ilustrador e jornalista, Jadiel é agora autor de Gilberto Calungueiro: Se esse boneco falasse. O livro-reportagem, viabilizado por meio do XI Edital de Incentivo às Artes (Secult), do qual o projeto recebe apoio cultural, encontra-se nos ajustes finais com previsão de lançamento para este mês de maio. “O livro vai ser colorido para prestigiar as fotos do José Vanucci Evaristo Vieira, foi diagramado por Renan Rosendo e Fran Ameixeiras, e já está com o projeto pronto. Estamos aguardando alguns trâmites do edital para poder imprimir e, assim, ter a data certa de lançamento”, adiantou.

O embrião do projeto, porém, nasceu durante a conclusão do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), sob a orientação do professor Ronaldo Salgado. “Em 2014, Gilberto se apresentou no Congresso da Rede Unida, lá no Centro de Eventos. Fazia muito tempo que não o via brincar boneco e fiquei emocionado. Eram conferencistas e pessoas de todos os lugares do país. O linguajar de Icapuí é quase um dialeto, mas o humor do bonequeiro encantava, fazia todo mundo dar gargalhadas. Isso é muito raro, é de uma sutileza muito forte”, garante. “Desde o começo não tinha a intenção de que o material ficasse dentro da universidade. Queria registrar a história dele e divulgar sua contribuição para a cultura”, complementa o autor, que destacou no livro alguns aspectos marcantes do calungueiro, agraciado também com o título de Mestre do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste (2015).

“Ele é muito aberto, isso permitiu uma imersão muito grande nas conversas e na observação. O Gilberto é conhecido por ‘ser o mesmo dentro e fora da empanada’. Tem um tempo cômico muito preciso e é muito brincalhão, adora contar causos, anedotas. Por isso o livro traça a ligação intrínseca entre ele e o boneco Baltazar, personagem principal da brincadeira de calungas, que é tão presepeiro quanto o Calungueiro que lhe dá voz. A segunda parte registra duas de suas apresentações, uma em Icapuí e outra no evento da homenagem do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, que contou com a presença de outros mestres do Casimiro Coco e do Calunga cearense”, explicou.

Para Jadiel, adentrar no universo de Gilberto Calungueiro abriu espaço, sobretudo, para um conhecimento maior sobre a própria história de Icapuí, conhecida pela pesca da lagosta. “Ouvindo as histórias dele eu estava acessando a história cultural da cidade de uma maneira muito profunda. Eu era muito leigo sobre ela, conhecia o que via de apresentações artísticas na cidade, mas, antes disso, violeiros, ciganos, cantadores, calungueiros, rendeiras, seresteiros, pastoris, rodas de coco tinham atravessado a cidade. Gilberto é um ícone da cultura cearense e nordestina. Brincantes de teatro de bonecos mais recentes o têm como referência. Ele conviveu com tudo isso, então tem muita história de se ouvir. Também pudera, pescador!”.

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Nordeste Notícia

Fonte: O Povo/TERESA MONTEIRO

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