O governador Camilo Santana, que tem participado de eventos ao lado de Ciro Gomes, vota no pedetista também pela reciprocidade ( Foto: Kleber A. Gonçalves )

Hoje, completa um mês da decretação da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para cumprir uma pena de 12 anos, resultado da condenação no processo por recebimento de um apartamento conhecido como o tríplex, São Paulo. Ao contrário dos momentos anteriores à decisão do juiz federal Sérgio Moro, condutor da Ação Penal, cujo principal réu era Lula, já não mais pululam aquelas manifestações e ameaças contra a detenção do ex-presidente.

Hoje, com a constatação da realidade, alguns petistas já admitem o PT não como o protagonista principal de uma das chapas concorrentes à Presidência da República, mas coadjuvante, pois reconhecem não contar, em seus quadros, de nome à altura de substituir Lula na disputa eleitoral, quando o partido experimenta dificuldades diversas, sobretudo de ordem moral.

Coincidentemente, tanto o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, quanto o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, referem-se a Ciro Gomes (PDT) como uma opção de esquerda na disputa presidencial deste ano. Evidente que entre reações isoladas de petistas quanto a uma composição com Ciro na cabeça, e a concretização dessa hipotética saída, há uma distância consideravelmente grande.

Amealhou

Não é uma situação intransponível, por não existir na política o impossível, mas não estará equivocado quem admitir essa possibilidade como improvável. De todo modo, porém, o presidenciável do Ceará, no contexto nacional, já amealhou alguns benefícios com os posicionamentos dos dois próceres ligados a Lula.

O discurso de Lula candidato a cada dia perde mais força. Um número bem menor de petistas ainda alimenta tal sonho. E não é apenas por ele já estar há um mês trancafiado e não se vislumbrar sua libertação tão imediata. Lula pode até ser solto antes do início da campanha eleitoral, em agosto próximo.

Sua pretensão de ser candidato não é impedida pelo fato de estar preso, mas em razão da causa motivadora da prisão, a prática delituosa que o levou a um Tribunal, incluindo-o no rol dos atingidos pela Lei da Ficha Limpa, que torna inelegível os condenados em segundo grau por práticas delituosas tais como a improbidade administrativa.

Só a anulação do processo causador da condenação tornaria Lula elegível. E até a conclusão dos prazos da legislação eleitoral para registro de candidatura, agosto vindouro, impossível será ter-se uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), num recurso Especial, ou do Supremo Tribunal Federal (STF) em recurso Extraordinário, cometendo aquilo que os estudiosos do direito poderiam considerar de aberração, posto ter o processo tramitado seguindo os ditames estabelecidos pelo Código de Processo Penal, e sob a vigilância constante e eficaz da competente defesa do réu.

Musculatura

Lula fora da campanha, Ciro obterá um melhor resultado eleitoral no Ceará. Nenhum outro candidato petista chegará perto da votação que o ex-presidente teria neste Estado. Os aqui filiados ao Partido dos Trabalhadores não têm musculatura para fazer uma campanha de sucesso em favor de outro nome que não o de Lula da Silva.

Ademais, inibidos ficarão os petistas insurgentes contra o nome de Ciro, principalmente, sabendo da potencialidade do pedetista e do envolvimento do governador, com toda a estrutura de Governo em favor da postulação de Ciro, o que não aconteceria sendo o ex-presidente o candidato. Camilo vota em Ciro em qualquer situação da disputa presidencial, também por uma questão de reciprocidade.

As candidaturas de Ciro e de Camilo vão ser únicas no palanque em todo o Estado. Os petistas divergentes ficarão fora dele. Cid, na maioria dos eventos públicos da campanha de Camilo vai estar no palanque como candidato ao Senado e representando seu irmão Ciro.

E como a principal liderança da coligação com o PT de Camilo, não ficará confortável se alguém ousar pedir votos para um outro presidenciável, compreensível é admitir-se que o próprio governador agirá para evitar constrangimentos. O sucesso eleitoral do PDT no Estado, não será contado apenas com uma vitória de Camilo, e dele próprio ao Senado, mas, sim, se for Ciro o postulante ao Palácio do Planalto, o destinatário da mesma ou maior quantidade de votos conquistados, isoladamente, por Camilo e Cid Gomes.

Inegavelmente, Ciro teria que desenvolver um esforço hercúleo para ter uma votação digna da liderança política do seu grupo no Ceará, com Lula candidato a presidente, não pela influência dos petistas do Estado, mas pela afinidade de expressivo número do nosso eleitorado com o ex-presidente.

Os demais candidatos à sucessão do presidente Temer, inclusive Geraldo Alckmin, do PSDB, não tem a empatia necessária para concorrer com Ciro no seu próprio Estado e com a estrutura de Governo que detém, somando as gestões do Estado e de inúmeras prefeituras.

Nordeste Notícia
Fonte: Diário do Nordeste/Edson Silva

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