Iguatu. A falta de água que atinge as localidades rurais no Interior vem se agravando desde 2012. Uma das alternativas para o abastecimento das famílias é a perfuração de poços profundos, mas, quando a água que vem do subsolo é salobra, imprópria para o consumo humano, é preciso a implantação de sistemas de dessalinizadores. Nos últimos três anos, foram instalados 248 unidades em 40 municípios, somente pelo Programa Água Doce. Para este ano, estão previstos mais 29.
A água fornecida pelos carros-pipa está sem qualidade porque os reservatórios estão secando. A dessalinizada é pura e evita doenças de veiculação hídrica. O Ceará é o Estado do Nordeste com o maior número de dessalinizadores instalados pelo Água Doce, gerenciado pela Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) e financiado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Ampliação
Geralmente, os equipamentos se destinam ao atendimento de localidades isoladas, com mais de 20 famílias, e a água é exclusivamente para consumo humano. “A situação vem se agravando demais e estamos reivindicando ao governo federal mais recursos para implantarmos mais sistemas, inclusive em comunidades maiores”, observou o coordenador do Programa Água Doce, Ricardo Marques.
A construção e instalação de uma unidade completa (poço, casa da máquina, caixas de água e de rejeito e chafariz) custam, em média, R$ 150 mil. Já o dessalinizador, varia em torno de R$ 70 mil, mas depende da capacidade de processamento em quantidade de água por hora.
O caráter associativo e educativo do Água Doce é destacado pelo coordenador e pelo superintendente adjunto da Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra), Vanderley Guimarães. O acesso à água é por meio de pagamento e o sistema é gerenciado por uma associação de moradores. Dependendo do número de famílias, cada 20 litros de água custam R$ 1.
Os moradores compram fichas (semelhantes às antigas telefônicas) e colocam no equipamento que libera 20 litros. “Isso aqui é água pura, mineral”, comemora a moradora Francisca Marques, do Sítio Mateus, Município de Mombaça. “Agora não precisamos mais de carro-pipa”.
Viabilidade
O sistema para ser instalado passa por uma análise de viabilidade do poço profundo, acesso à rede elétrica e outras condicionantes. “Não é um programa emergencial, mas estruturante”, frisou Ricardo Marques. “Se houver manutenção, o dessalinizador tem duração de longo prazo, sem problemas”. Os moradores beneficiados são capacitados e os recursos arrecadados destinam-se a um fundo associativo.
Vanderley Guimarães disse que a instalação de dessalinizadores tem uma avaliação positiva. “Salvamos vida fornecendo água de qualidade e os equipamentos, em sua maioria, funcionam regularmente”, frisou. O superintendente da Sohidra disse que o programa tem preocupação com o rejeito (a água salgada) que é separada e pode afetar o meio ambiente. “Seguimos protocolo da pasta ambiental e o rejeito é colocado em uma caixa e pode ser usado no cultivo de palma forrageira e na criação de alguns pescados”, explicou.
Além da SRH, Sohidra e Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) também instalam sistemas de dessalinizadores, que apresentam modelos mais simples daqueles utilizados pelo Água Doce. Em 2015, havia 460 implantados pela Sohidra. A Superintendência não forneceu números atuais. Os equipamentos podem variar de 400 l/s, 800 l/s e 1.200 l/s. “A tendência é aumentar a demanda e a instalação desses sistemas localizados de abastecimento porque a crise hídrica que enfrentamos é a mais grave”, pontuou o secretário Executivo da SRH, Aderilo Alcântara.
Os dessalinizadores precisam de poços profundos como fonte de água. Em 30 anos da Sohidra, foram perfurados 11.115 poços, e no atual governo, 4.624, equivalente a 41,6%. Em 2012, foram instalados 261 e em 2016, 1.994. “A demanda é sempre crescente e há 19 perfuratrizes em campo”, disse Guimarães.