O colorido dos fogos de artifício já é tradição para marcar a passagem de um ano para o outro, mas, o estrondo pode assustar, afetar a rotina de sono e causar danos neurológicos e auditivos em crianças. Com as células do aparelho auditivo ainda em maturação até os 18 meses, crianças estão mais suscetíveis a lesões por barulhos de alta intensidade.

Sobre o assunto

“Além disso, o ser humano nasce com mais sensibilidade a todo tipo de estímulo. O amadurecimento leva a um limiar de tolerância maior”, aponta André Luiz Pessoa, médico neurologista infantil, especialista em Neurogenética, médico do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) e professor de práticas médicas da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Aos dez meses, Cecília Leite já viveu três experiências com fogos de artifício. As duas primeiras foram nos acessos à Série B e à Série A, respectivamente, de Fortaleza e Ceará. Na última, os fogos foram no Natal. Em todas, a menina foi afetada. Morando no oitavo andar, o pai, o publicitário Rubinho Martins, 36, conta que os fogos estouram muito próximo às janelas. Então, nesses dias, eles fecham todas as entradas da casa, tentam abafar ao máximo os sons e estão sempre por perto.

“No acesso do Ceará, ela estava nos meus braços, ela se tremia muito. A gente tentava fazer festinha pra ela não associar a uma coisa negativa. Aí ela não chorou. No Natal, ela já estava dormindo e ficava acordando a cada estouro”, relembra o pai. O neurologista aponta que a interrupção do sono pode trazer repercussão nos dias seguintes, porque “pode alterar as funções de vigília e a arquitetura do sono”.

A pequena Lara, de dois meses, deve viver neste Réveillon a primeira situação similar a de Cecília e a mãe, a bancária Taís Brito, 29, já projeta os cuidados. “Vou estar com ela nos braços e devo tampar os ouvidinhos dela. Vou tentar acalentar e acalmar. Acho que o importante é tentar passar segurança pra ela”, conta.

Apesar de causarem certo medo, pelo barulho inesperado, os fogos de artifício só provocarão dano ao aparelho auditivo se a criança estiver muito próxima à fonte do barulho. “Para ter um dano agudo é preciso uma intensidade sonora acima de 140 decibéis, que é um som muito alto. O movimento de ar que a explosão do fogo de artifício gera pode causar lesões à membrana do tímpano, aos ossinhos do ouvido e até mesmo ao ouvido interno, e ser irreversível. Por isso, uma criança exposta a isso precisa ser imediatamente levada a um médico”, assevera Marcos Rabelo, médico otorrinolaringologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.

Quando as reações aos barulhos são de extremo incômodo, o neurologista indica que é necessário investigar a possibilidade de uma disfunção da modulação sensorial. “É preciso identificar e tratar. Existem algumas terapias, como a integração sensorial, que é feita por terapeutas ocupacionais, e visam dessensibilizar do som”, aponta. O médico reforça que pessoas do espectro autista também são afetadas por barulhos.

Nordeste Notícia
Fonte: O Povo/Domitila Andrade

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