artepoliciaA ostentação de farras, bebidas e viagens de um grupo de fraudadores cearenses custou caro para mais de mil clientes do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal (CEF) e Itaú, que tiveram suas contas invadidas e seu dinheiro retirado através de golpes. O bando liderado por Arthur Franklin de Sousa Lima, conseguiu furtar até R$ 40 mil em um dia, conforme a Polícia Federal (PF). Os suspeitos chegaram a ir ao exterior fazer saques no Paraguai e na Argentina, no intuito de burlar a segurança dos bancos brasileiros.

A princípio, 13 pessoas supostamente envolvidas com o esquema foram presas pela PF, no último dia 11 de abril, durante a deflagração da ‘Operação Valentina’. O bando teria desviado R$ 7,5 milhões das vítimas, em golpes que aconteciam diariamente. No dia 14 de abril, a Justiça Federal decidiu manter todas as prisões temporárias e preventivas.

No dia 12 de abril, três supostos integrantes da organização foram soltos e no dia 15 mais outros três, todos eles presos temporariamente. Os outros sete permanecem encarcerados. No último dia 18 de abril, a Vara de Execuções Penais autorizou a transferência de Artur Franklin de Sousa Lima, Francisco Glauco Ferreira Pereira, Renato Vieira do Nascimento, Ítalo Queiroz Costa, Caio César Santos da Silva, José Syla Silveira Júnior e Leonardo Vieira dos Santos da carceragem da Superintendência da PF para o Sistema Penitenciário.

Artur Lima e Syla Júnior já são conhecidos da Polícia pela prática de fraudes. Em 2008, foram presos pela Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF) da Polícia Civil, em posse de um cartão de crédito, em nome da apresentadora Maria da Graça Xuxa Meneghel. Quase uma década depois, o caso não foi julgado e os dois nunca foram punidos por isto.

Em maio de 2016, começaram a ser novamente investigados por fraudes, desta vez pela Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários (Delefaz) da PF. O delegado responsável pelas apuração que culminou na ‘Operação Valentina’, Madson Henrique Tenório, disse que há indicativos que alguns integrantes do bando preso agora tenham agido, em 2011, contra clientes da CEF. “Temos indícios da atuação de alguns, não de todos”.

Núcleos

A PF identificou quatro líderes da organização. No entanto, Artur Lima se sobressai, conforme as investigações. “Ele articulava as ações da quadrilha e comandava diretamente, pelo menos, seis pessoas”, afirmou Tenório. Foi ele quem motivou o nome da operação, já que ‘Valentina’ era o nome da cadela, que sempre expunha em fotos nas redes sociais. Não só Artur, mas também seus comparsas demonstravam um padrão de vida elevado e não tinham uma ocupação oficial ou de fachada, segundo a Polícia.

Mesmo as ações da quadrilha tendo sido descobertas e os detalhes do golpe comprovados pela PF, o delegado explica que dificilmente os milhões conseguidos de forma fraudulenta serão devolvidos. “A maior parte do dinheiro não será recuperada, porque eles gastaram. Viviam de ostentar com farras, bebidas, viagens, joias”.

Alternativas

Madson Tenório explicou que a quadrilha ‘espalhou’ o dinheiro, para dificultar o rastreio quando a Polícia descobrisse o esquema. “O dinheiro foi muito pulverizado. Além do núcleo dos líderes havia muitos laranjas, que davam suas contas para receberem transferências, e boletos para que fossem pagos com desconto, além de receberem pequenas vantagens”.

O delegado explica que o bando procurava alternativas para retirar o dinheiro das contas. “Eles tinham a senha, mas só podiam sacar mil reais por dia, então além do saque mandavam pessoas irem em estabelecimentos comerciais passar um cartão de débito clonado, ou pagavam boletos. Eram formas de retirar a mais o que não podiam sacar”.

As viagens para o exterior também foram um jeito de burlar os dispositivos de segurança dos bancos, conforme a PF. “Faziam um cartão clonado, levavam para o exterior sem chip e faziam saques. Fizeram muitos saques no exterior”.

O motivo das viagens eram os saques, mas no caso do Paraguai, os suspeitos também compravam mercadoria para trazer ao Brasil. “Alguns voltavam com um pouco de dinheiro e trocavam aqui em casas de câmbio. Outros compravam eletrônicos no Paraguai para vender”.

Continuidade

Madson Tenório disse que as investigações continuam e que o material apreendido no dia que a operação foi deflagrada será analisado. Segundo ele, outros integrantes do esquema podem ser identificados com esta análise.

Conforme o delegado, o grupo que forneceu os softwares que invadiam as contas está sendo investigado. “Os suspeitos presos não têm conhecimento de técnicas de programação. Eles apenas compram um software que não foram eles que desenvolveram, só sabem operar. Os hackers, que estão sendo investigados, são os que fazem e vendem os softwares para as quadrilhas a preços altos”.

Técnicas

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“Os suspeitos não têm conhecimento de técnicas de programação. Eles apenas compram os softwares e operam”

Madson Tenório
Delegado de Polícia Federal

Entrevista com Murilo Tito Pereira* 

Perito dá dicas para não ser vítima de golpe

Quais os principais erros que as pessoas cometem e fragilizam a segurança delas na Internet?

Muitas vezes o usuário recebe um e-mail com mensagens como: ‘você está sendo traído’, ‘veja fotos de alguém’, ‘você está em débito com a Receita Federal, ‘você está sendo intimado pela Polícia Federal’, ‘um banco quer que você atualize sua senha’. A recomendação é não abrir. São apenas mensagens para gerar curiosidade ou receio e fazer o usuário clicar no link e instalar um programa malicioso. Sempre desconfie de mensagens que você não estava esperando ou não sabe a origem. E quando a gente fala de mensagem não é só por e-mail, pode chegar por WhatsApp, Facebook, ou outras redes sociais.

Se a vítima clicou e percebeu que se trata de um golpe, o que deve fazer?

A melhor opção é buscar uma máquina ‘limpa’ ou ir até a agência bancária trocar a senha da conta. Depois, buscar assistência técnica para ‘limpar’ o computador. Se você clicar em um link em que esteja montada uma página falsa do seu banco em que pedem para você digitar sua senha; ou se pediram para você baixar um programa e executá-lo, provavelmente caiu em um golpe. Nunca se pode dar continuidade a esses processos, nem fornecer dados.

Quais as principais dicas para não ser atacado pelos golpistas?

É preciso ter um antivírus atualizado e manter o e-mail muito bem protegido com uma senha difícil. A partir do e-mail, o fraudador pode ter acesso a diversas outras movimentações que você faz. É importante que o usuário habilite todos os recursos de segurança que o seu provedor de e-mail fornecer.

O que seria essa senha forte?

Senhas com palavras que não estão no dicionário e nem sejam formadas por dados pessoais. A melhor dica é pensar em uma frase que você gosta, e obviamente não vai esquecer, e pegar a primeira letra de cada palavra da frase. É importante, também, separar uma senha para seus serviços financeiros, outra só para o e-mail e outra padrão para todo o resto.

É mais seguro fazer transações bancárias virtuais ou físicas?

Considero mais seguro usar meu computador e meu smartphone, do que me expor aos perigos da rua e me submeter a um caixa eletrônico, que também não é 100% seguro e livre de fraudes, porque alguém pode ter instalado um dispositivo de captura de senhas nele. O que não se pode nunca é usar computadores que não são conhecidos, como de cibercafés, para acessar a página do banco. O internet banking de um smartphone tende a ser mais seguro que o do computador, porque o smartphone tem mais restrições para instalação de aplicativos estranhos.

Fora os links, que outros tipos de golpes circulam na internet?

Se você é cliente de uma empresa, por exemplo, e recebe um boleto dela para pagar dificilmente vai desconfiar, mas às vezes esse boleto é falso. É preciso estar atento se o valor é o mesmo que você costuma pagar, se o vencimento está no dia certo, se a forma que recebeu a cobrança é usual. O fraudador tem acesso a essas informações sobre serviços tanto invadindo servidores, quanto ligando para sua casa dizendo que estão fazendo pesquisas. Se alguém ligar perguntando qual a sua internet, quanto você paga, o dia do vencimento, não se deve informar. Quanto mais informações eles tiverem, mais fácil será aplicar um golpe.

Os bancos estão preparados para enfrentar o avanço das tecnologias e manter os clientes seguros?

É preciso separar quando o usuário é a vítima ou quando ele fornece a senha a um fraudador. Se ele forneceu os dados, é muito difícil o banco separar quem está operando aquele terminal, se o fraudador ou o usuário. O que vemos é que os bancos estão tentando manter o sistema seguro. Sempre que uma fraude é descoberta vão lá e ‘tapam aquele buraco’. Existe esse jogo de gato e rato de correr atrás de onde estão as falhas.

Os golpistas costumam ter conhecimentos especializados?

Muitos desses fraudadores não têm conhecimento algum em informática. Eles usam vários programas para esses golpes darem certo, uma espécie de kit que baixam da internet. Os hackers, ou seja, as pessoas que fazem os softwares são sim especializados, mas só fazem e vendem, não operam as fraudes.

*perito federal especialista em informática

Nordeste Notícia
Fonte: Diário do Nordeste

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