Seu Nicácio tinha um comércio na rua Cel. José Pompeu nº 452 no centro da cidade que era bar, mercearia, padaria, restaurante, de tudo um pouco. Eu já o conheci de cabelos brancos, óculos e gentileza. Abria cedinho, fechava à noite. O comércio era grande: balcão pra rua, portas que dava a um salão, onde havia mesas. Nelas era café, almoço, tira-gosto. Era ali no meio de surrões cheios de farinha, milho, feijão e goma; de litros e mais litros de cachaça; com rolos de fumo de palha em cima do balcão e prateleiras escassas de mercadorias que as pessoas se encontravam aos sábados, dia de feira. Do outro lado do balcão, ficava o notável seu Nicácio.
Os fregueses gostavam de frequentar o recinto, ficar por ali sentados em tamboretes de madeira ou encostados nos sacos. Muitos iam à bodega não somente para comprar um quilo de açúcar ou de arroz, ou adquirir uma lata de óleo, mas também para jogar conversa fora, encontrar amigos. Passavam horas e horas tomando cachaça, genebra, conhaque de alcatrão de São João da Barra ou guaraná quente. De cada dose, jogavam um pouquinho no chão (acho que era pra o santo) e tiravam o gosto com uma mão cheia de farinha branca ou d’água.
Na bodega, muitos deixavam guardados no local os sacos com as primeiras compras do dia, as carnes e os peixes amarrados com embiras e que Nicássio colocava pendurados em pregos na parede. Voltavam para a feira para fazer outras compras.
Foi assim durante anos, seu Nicássio ficou cansado. Após a aposentadoria, decidiu fechar a bodega. Mas enquanto pôde, nunca deixou de ir para a “rua” (centro comercial) um dia sequer.
Seu Nicácio nos deixou de forma silenciosa em (22) de abril de 2014. O comerciante foi para o andar de cima. Pra nós, muitas lembranças, saudade de um tempo que não volta mais.