Pelo menos 12 ônibus foram incendiados nesta quarta-feira, 19/04/17, na cidade de Fortaleza e na Região Metropolitana.
Nos locais dos ataques, foram deixadas cartas assinada pela facção Guardiões do Estado (GDE 745). O número 745 faz menção à posição no alfabeto das letras que formam o nome da Facção. A carta também circula nas redes sociais e serviços de mensagens como WhatsApp.
No texto, os supostos integrantes da GDE ameaçam parar o Ceará e explodir a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS). Chamam o governo de corrupto e ameaçam funcionários e prédios públicos. A exigência é a transferência dos integrantes da facção da casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II), localizada em Itaitinga, para outros presídios.
Na carta também há algo mais grave: os autores insinuam que duas outras facções, o Comando Vermelho (CV) e a Família do Norte (FDN) estão “colando”com a direção dos presídios. Na gíria do crime, “colar” significa parceria, fazer aliança.
Em entrevista ao Portal Tribuna do Ceará, o presidente do Conselho Penitenciário do Estado do Ceará (Copen-CE), Cláudio Justa, afirma que os ataques podem ser uma declaração de guerra entre as três facções (GDE, CV e FDN). Segundo ele já houve confrontos na CPPL II e na CPPL IV entre presos e os integrantes do Comando Vermelho estariam sendo expulsos destes presídios devido a uma aliança entre a GDE e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
As declarações do presidente do Copen-CE não combinam com as cartas deixadas nos locais dos ataques.
Após os primeiros ônibus serem queimados, os empresários de ônibus mandaram recolher os veículos às garagens, deixando a população sem ter como retornar para casa. Transportes alternativos, inclusive o Uber, inflacionaram preços dos serviços.
Faculdades suspenderam as aulas no turno da noite e a cidade vive clima de incerteza.
Conforme as cartas, os ataques vão continuar até que os presos sejam transferidos da CPPL II, que já foi interditada para a entrada de novos presidiários em abril do ano passado pelo juiz corregedor de presídios da Comarca de Fortaleza, Cézar Belmino Barbosa Evangelista. O motivo foi a enorme quantidade de detentos e a falta de condições do presídio para abrigá-los.
Até o início da noite desta quarta-feira, não havia pronunciamento oficial nem da Secretaria de Justiça do Estado (Sejus) e nem da SSPDS sobre o caso.
Entre o ataque dos criminosos, o silêncio do governo (inclusive do midiático secretário de Segurança Pública Andre Costa) e a preocupação dos empresários com seu patrimônio, quem mais uma vez paga o pato é a população, principalmente quem é mais pobre e mora na periferia.