A quantidade de motocicletas que circulam, hoje, no interior do Ceará, ultrapassou um milhão — num aumento de 4,5% em relação a 2015, quando eram 961.425. Como consequência, o ano passado registrou crescimento de 1% no número de motociclistas que se acidentaram no trânsito interiorano e foram transferidos para atendimento de emergência no Instituto Doutor José Frota (IJF), em Fortaleza.
Segundo o diretor médico do IJF, Osmar Aguiar, o perfil do acidentado, embora continue a ser predominantemente homem com faixa etária entre 19 e 45 anos, tem mudado: “de uns cinco anos para cá, a gente vem observando mais frequentemente idosos e crianças pilotando as motos”, criticou o médico.
Conforme Osmar, acidentes envolvendo motociclistas se devem, principalmente, ao não uso do capacete, à ingestão de bebida alcoólica e à falta de habilitação para pilotar. O superintendente-adjunto do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE), Daniel Barreto, reforça que o quantitativo de habilitados não acompanha a frota. Conforme o site do departamento, o Ceará tem 1.074.744 motociclistas com permissão para conduzir. Barreto ainda detalha: “85% (dos acidentes) são por imprudência do condutor da moto”.
Contudo, foi por causa de um cachorro que atravessava uma rua de Sobral que o motorista Francisco Cleiton Araújo, 32, caiu da moto em que trafegava com o irmão. Por causa do acidente, ele está há dois anos e cinco meses em tratamento pelo IJF, na tentativa de recuperar a ossada da perna esquerda. Francisco está sem trabalhar, recebe apoio financeiro da previdência social e tem de se deslocar de Sobral para Fortaleza ao menos uma vez por mês, para tratamento.
Atendimento
Se a maior parte dos acidentados de moto fosse socorrida e acompanhada nos hospitais especializados das macrorregiões de saúde do Estado, tanto os pacientes não teriam de fazer viagens sucessivas ao IJF, como faz Francisco, como o hospital não ficaria tão sobrecarregado, visto que 61% dos atendimentos relacionados a trânsito na unidade são apenas para motociclistas.
No entanto, segundo Osmar, alguns serviços financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Interior estariam sendo desativados, o que acabaria forçando a transferência para a Capital. “Pacientes de média complexidade não deveriam vir pra cá”, lamentou.
Fiscalização
Segundo o superintendente-adjunto do Detran, a fiscalização de motociclistas no Interior conta com o apoio da Polícia Rodoviária Estadual (PRE), mas só poderá ser eficaz quando todos os municípios tiverem as próprias autarquias de trânsito. Atualmente, conforme o site do departamento, somente 25% dos municípios cearenses aderiram ao sistema. Daniel comenta que há um estigma entre os prefeitos de que o supervisionamento poderia ser “antipático” para a população. “Tem antipatia no primeiro momento, mas depois as pessoas adoram porque o trânsito fica ordenado e diminui os acidentes”.
Nordeste Notícia
Fonte: Diário do Nordeste/Luana Severo