O republicano Donald Trump, de 70 anos, surpreendeu o mundo e venceu a democrata Hillary Clinton na corrida eleitoral para presidente dos Estados Unidos. A conquista do empresário milionário de Nova York à presidência foi confirmada por volta das 5h32min (horário de Brasília) desta quarta-feira, 9, quando ele conseguiu os 276 delegados, ultrapassando os 270 necessários para ser o vencedor no Colégio Eleitoral.
Logo no primeiro discurso de Trump em seu comitê, o próximo presidente dos Estados Unidos fez questão de afirmar que governará para “todos os americanos”.
“Todos os americanos terão a oportunidade de que perceber seu potencial. Os homens e mulheres esquecidos de nosso país não serão mais esquecidos”, discursou. Trump disse ainda que o plano do país deve ser refeito. “Vamos sonhar com coisas para nosso país, coisas bonitas e de sucesso novamente.”
Segundo a imprensa america, Hillary ligou para o adversário político minutos depois da confirmação da vitória do republicano. “Eu cumprimentei pela campanha muito disputada”, disse o nova-iorquino de Queens durante discurso.
Para superar Hillary, Trump alcançou vitórias fundamentais nos estados da Flórida, Carolina do Norte, Ohio e Iowa. O republicano se tornou ainda o primeiro candidato de seu partido a ganhar na Pensilvânia desde George H. W. Bush, em 1988.
Projeções sobre o governo Trump
Os especialistas projetam que o governo Trump será voltado para questões internas e isolado da política externa. A expectativa é de que ocorra um distanciamento do hemisfério sul, atingindo relações comerciais de países como Brasil, México e da Ásia. Para o professor de Ciência Política e relações internacionais do Ibmec/MG, a vitória de Trump representa uma guinada reacionista à política externa dos Estados Unidos e assuntos internacionais.
“Muito provavelmente (resultará) em um distanciamento de assuntos ligados e questões internacionais do comércio, a relação de corporação, o problema da guerra, e de questões mais recentes, como o terrorismo, o ciberterrorismo e coisas do gênero”, disse Oswaldo.
De acordo com o professor, com Trump, os Estados Unidos devem adotar uma postura como adotou no século 19, quando se “acreditava internamente que qualquer coisa que ocorria no mundo, não era da conta dos EUA”. O professor de relações internacionais e presidente do Instituto Brasil África, João Bosco Monte, reforça o discurso de distanciamento do governo republicano.
“Vitória de Trump pode degringolar as relações do resto do mundo com os Estados Unidos. Nesse sentido, Trump tem demonstrado em sua política externa, se é que ele pensa em política externa, que não olhará para América que não seja os Estados Unidos. Ele pensa em fazer um muro para separar do México. Vai cercear a presença dos estrangeiros”, comentou Bosco.
Mercados oscilam
Antes de ser concretizada a vitória de Trump, os indicadores de mercado oscilavam a cada avanço do candidato republicano na apuração de votos. A moeda mexicana registrou o valor mais baixo frente ao dólar desde 2008. O iene japonês subiu cerca de 2,7% contra o dólar. De acordo com o The New York Times, os mercados de todo o mundo projetavam uma vitória de Hillary Clinton.
Um político polêmico
Logo após dizer que não seria candidato, Trump inicia uma nova fase de declarações, sempre controversas, sobre imigrantes, muçulmanos, acordos comerciais com o México e o programa de saúde defendido pelo presidente Barack Obama, conhecido como Obamacare. Na medida em que os anos passaram, em vez de moderar o tom, suas declarações passaram a ser cada vez mais polêmicas.
Críticos interpretavam as declarações de Trump como uma estratégia do empresário para estar sempre nas páginas dos jornais. Em 29 de maio de 2012, por exemplo, Donald Trump disse, na CNN, que o lugar de nascimento do presidente Barack Obama se enquadra em uma questão de opinião. E, numa referência à certidão de nascimento do presidente Obama, que aponta o estado do Havaí como sua origem, Trump disse que “muitas pessoas acham que não era um certificado autêntico”.
Em junho de 2015, ele faz dois anúncios diretamente relacionados com suas ambições políticas. No dia 16, ele disse, em uma entrevista no Trump Tower, que iria concorrer a presidência da República; e, no dia 28, ele disse que sairia do programa O Aprendiz, transmitido pela TV NBC. No dia seguinte, a emissora de TV deu a resposta que marcou o início de um relacionamento marcado por conflitos entre o empresário e a mídia norte-americana.
Em resposta, a NBC informou que estava cortando seus laços de negócios com as empresas do bilionário e que não iria mais exibir os concursos Miss USA e Miss Universo, promovidos por Trump (em parceria com a emissora), por causa de “declarações desrespeitosas de Donald Trump sobre imigrantes”. A declaração da emissora ocorreu duas semanas após Trump anunciar que iria construir um muro na fronteira mexicana, pago com dinheiro do México, para barrar a entrada de imigrantes ilegais em território norte-americano.
Daí em diante, a história mostra um Donald Trump um pouco mais cuidadoso nos comentários sobre imigrantes e sobre os muçulmanos, que eram os alvos favoritos de suas críticas.
Em julho de 2016, depois de ser homologado como candidato do Partido Republicano, Trump passou a centralizar suas críticas em Hillary Clinton, a candidata do Partido Democrata. Em três debates que ele teve com Hillary, a frase que ficou na memória dos telespectadores foi o momento em que ele chamou Hillary de “mulher desagradável”. Em resposta, adversários de Trump, integrantes da cúpula do Partido Democrata disseram que mulheres são desagradáveis quando não aceitam a intolerância contra as minorias e nem aceitam que a mulher seja tratada como objeto. A resposta era uma crítica ao comportamento de Donald Trump que, em um vídeo de 2005, usa palavras desrespeitosas com as mulheres. Pouco depois da divulgação desse vídeo, dez mulheres vieram a público para dizer que foram vítimas de assédio sexual de Donald Trump. A partir daí, Donald Trump perdeu muitos pontos em pesquisas de intenção de votos e recebeu inúmeras críticas de integrantes da cúpula do Partido Republicano.