Em setembro de 2015, a Polícia Federal deflagrou a 'Operação Cardume', que resultou em 28 pessoas presas preventiva e temporariamente
Em setembro de 2015, a Polícia Federal deflagrou a ‘Operação Cardume’, que resultou em 28 pessoas presas preventiva e temporariamente

O delator Lindoberto Silva de Castro, 33, o ‘Louro’, revelou em um dos seus quatro depoimentos de colaboração premiada detalhes das conversas que teve com traficantes sobre a suposta negociação de alvarás de soltura nos plantões do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).

O homem, que seria integrante da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), firmou, no fim de 2015, acordo com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) para detalhar as operações do grupo internacional de narcotraficantes do qual fazia parte visando obter redução da pena e permanecer recolhido em presídio no Ceará.

Trechos do depoimento de Lindoberto Silva de Castro apontam conversas que ele teve com comparsas que pediam dinheiro para comprar liminares nos plantões do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE). Um advogado foi citado na delação.
Trechos do depoimento de Lindoberto Silva de Castro apontam conversas que ele teve com comparsas que pediam dinheiro para comprar liminares nos plantões do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE). Um advogado foi citado na delação.

A colaboração, homologada pela Justiça Federal em janeiro deste ano, traz ainda denúncias sobre a participação de policiais civis e militares em um esquema milionário de propinas e extorsões com traficantes do PCC, que ultrapassaria o montante de R$ 5 milhões. Apontado como um dos líderes do maior consórcio de quadrilhas de tráfico internacional de drogas já investigado pela Polícia Federal no Ceará, Lindoberto Castro foi preso durante a deflagração da ‘Operação Cardume’.

Em depoimento concedido na sede da PF, no dia 21 de dezembro de 2015, Lindoberto Castro cita o nome de seis comparsas e de um advogado que estariam em negociações com o objetivo de comprar liminares. As cifras giram em torno de R$ 150 mil, como já havia sido revelado pela PF durante a deflagração da ‘Operação Expresso 150’, que resultou no afastamento do desembargador Carlos Rodrigues Feitosa e no cumprimento de mandados de busca e apreensão em gabinetes do TJCE e em escritórios de advogados suspeitos.

Pedidos

Lindoberto afirmou que foi procurado pelo comparsa Roberto Oliveira de Sousa, também membro do PCC, para emprestar a quantia de R$ 250 mil “porque o advogado dele estaria providenciando um esquema para ele ser solto”. Afirmando não ter o dinheiro, Lindoberto teria entregue uma caminhonete para um ‘agiota’ e recebido em troca uma quantia em dinheiro de R$ 80 mil que foi repassada à mulher do comparsa dele.

No entanto, a soltura de Roberto não deu certo porque ocorreu justamente quando o escândalo da venda de liminares foi parar na presidência do TJCE. Em uma interceptação telefônica autorizada pela Justiça, o advogado Mauro Rios, avisa a Roberto que o “negócio” não deu certo e que iria devolver o dinheiro que tinha recebido.

Outra negociação que foi declinada por Lindoberto durante o depoimento diz respeito a Paulo Diego da Silva Araújo. O traficante, que também seria um dos líderes do PCC no Ceará, estaria articulando com advogados a soltura de três presos por meio de compra de liminares.

No dia 18 de maio deste ano, o advogado Mauro Rios, citado pelo delator, foi suspenso temporariamente por 90 dias em sessão sigilosa do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Ceará (OAB-CE).

Nordeste Notícia
Fonte: Diário do Nordeste

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