Campus Itaperi da Universidade Estadual do Ceará (Uece). — Foto: Divulgação/Uece

Cinco meses após a suspensão das aulas presenciais nas universidades estaduais do Ceará, devido à pandemia do novo coronavírus, instituições como a Universidade Estadual do Ceará (Uece), a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e a Universidade Regional do Cariri (Urca) ainda tentam finalizar semestres letivos. Nos casos da Uece e da Urca, o semestre 2019.2 ainda segue pendente. Já a UVA espera concluir o semestre 2020.1 Calendários e matrículas são planejados pelas instituições.

Segundo o coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Acadêmico e pró-reitor de Extensão da Uece, Fernando Roberto Silva, o período 2019.2 na instituição seria finalizado em abril de 2020, se não fosse pela crise. “O que ficou decidido, ainda em março, é que as disciplinas que fossem possíveis concluir de forma remota, seriam. Já as que não, que esperassem o retorno presencial”, lembra.

Já a Urca informou, por meio de nota, que as atividades presenciais foram suspensas no dia 16 de março, data do decreto estadual de fechamento das atividades não essenciais. No dia 13 do mesmo mês, antes da suspensão, foi criado o Comitê de Monitoramento das Ações de Prevenção ao Novo Coronavírus da Urca. “Desde o dia 3 de abril, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão manteve o calendário acadêmico, suspendendo as atividades presenciais e possibilitando as atividades remotas”.

Contudo, sobre a finalização do semestre 2019.2 e o início do 2020.1, a nota apenas citou que “os GTs da Graduação estão debruçados sobre esse tema do calendário”.

“O formato e a temporalidade do retorno gradual, com foco na segurança e na prestação continuada dos serviços, serão fundamentados nas orientações dos órgãos de saúde, Comitê de Monitoramento das Ações de Prevenção ao Novo Coronavírus da Urca, bem como nas normatizações com o Conselho Estadual de Educação (CEE)”.

Quase 4 mil estudantes tiveram Covid-19 no Ceará

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Retorno em duas etapas

Na UVA, o semestre 2020.1 foi ministrado de forma presencial por 17 dias até a suspensão das atividades, em 18 de março, como explicou a assessoria de comunicação da universidade, em nota enviada ao G1. Com o Plano de Retomada Gradual das Atividades Letivas da UVA, estão previstas duas etapas: implementação do calendário alternativo, com início no dia 14 de setembro e duração de 12 semanas, e uma segunda fase, que acontecerá de forma híbrida.

Essa última modalidade visa atender as disciplinas que necessitam de atividades presenciais ou aquelas em que os estudantes sem acesso à internet não possam cursar, mas depende da autorização sanitária do governo do Ceará.

Universidade Vale do Acaraú — Foto: UVA/Divulgação

Universidade Vale do Acaraú — Foto: UVA/Divulgação

“A implantação do Calendário Letivo Alternativo Remoto (CLAR 2020.1) está em fase de discussão das diretrizes pelos colegiados dos cursos e para sugestões também da representação estudantil. A reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE/UVA) que deverá aprovar o Plano de Retomada Gradual das Atividades Letivas e o CLAR 2020.1 está marcada para o dia 24 de agosto de 2020”, detalha a nota.

Retomada

A Uece, a Uva e a Urca enviaram ao governo estadual detalhamento dos itens necessários para a retomada das atividades de forma remota, “como aquisição de chips (pacote de dados), além da oferta de bolsas voltadas aos estudantes que precisem fazer a aquisição de equipamento eletrônico”. Também foi proposta a oferta de bolsas, aquisição de biblioteca virtual e auxílio-alimentação.

No dia 28 de julho, a Uece aprovou que as aulas do semestre 2019.2 fossem feitas de forma virtual, com encerramento previsto para o dia 4 de setembro. Com isso, a possível data de início do 2020.1 é 21 de setembro, de forma remota, “caso haja garantias de acesso aos alunos pelo Governo”, segundo informações do pró-reitor Fernando Roberto Silva. Os professores foram orientados a identificar os estudantes com dificuldades de acompanhamento das disciplinas para planejamento interno.

“A Uece criou no início do período de isolamento social, decretado pelo Governo do Estado, o Grupo de Trabalho para enfrentamento à pandemia do coronavírus na Uece, composto por epidemiólogos, virologistas e infectologistas, sejam médicos, veterinários ou enfermeiros, que contribui no planejamento e nas decisões necessárias para a Uece diante do problema sanitário que enfrentamos”, disse Silva.

Com a suspensão das aulas presenciais, a matrícula de novatos não foi possível, porque só poderia ser realizada na universidade. Entre os impactados pela suspensão do processo, está o aprovado em Medicina na Uece, Thiciano Sacramento Aragão, 34.

“A gente fica muito triste, altos prejuízos tanto da formação quanto financeiros. Muita gente que morava no interior e veio pra cá continua pagando aluguel. Não tem nenhuma previsão de retorno, e a gente está sem saber o que fazer”, lamenta Thiciano.

No entanto, conforme o pró-reitor, a inscrição dos novatos está garantida e será feita online, também em setembro.

Receio entre estudantes

Saber quais estruturas poderiam ser oferecidas é essencial para o retorno seguro, como avalia o estudante de pedagogia Antony Dantas, 21. Ele está matriculado na Faculdade de Educação, Ciências e Letras dos Inhamuns (Cetitec), no município de Tauá, uma das oito unidades de ensino da Uece.

“Alguns alunos voltaram para as cidades onde moram, com pouco acesso a Internet. Com a decisão de concluir o semestre remotamente muitos ficaram prejudicados porque não conseguiam enviar as atividades”, acrescenta.

Dantas, que também é membro da representação estudantil da unidade, tem receio de que a retomadas das aulas sem inclusão digital dos estudantes possa causar os mesmos efeitos de quando alguns cursos tentaram utilizar plataformas virtuais na tentativa de encerrar o semestre 2019.2.

“Tem gente preso nessas cidades porque o serviço de ônibus está interrompido e não podem ir para uma área com melhor acesso à internet. Então, se não tiver um suporte, ficaria ruim de assistir às aulas de novo”, completa.

Representantes estudantis da Uece permanecem em contato para articulação do retorno seguro. Vitória Guerra, 21, aluna do curso de Letras-Português, integra um destes grupos como representante estudantil do campus de Fortaleza.

“Setores administrativos estão divulgando uma volta, inclusive, com data para matrículas de veteranos e calouros, mas não é nada certo. Nenhuma proposta apresentada até agora contempla estudantes que não tem acesso à internet. Então, estamos discutindo formas de retorno seguro, tanto do semestre 2019.2 quanto do 2020.1”, pontua.

Acesso à internet

Uma pesquisa de opinião sobre o acesso à internet entre o corpo discente e os professores foi realizada em junho, com participação de 4.149 pessoas. Entre os estudantes, 90,5% afirmaram que têm acesso à internet em casa, 91% realizam o acesso por telefone celular, enquanto 69% acessam por computador ou notebook próprio. Entre os professores que responderam à pesquisa, 98,5% têm acesso à internet em casa e 92% acessa por meio de notebook próprio.

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