Não deve ser nada agradável ter a missão de marcar Messi, Suárez e Neymar, que hoje formam o ataque mais eficiente do mundo. Só em 2016 já foram 105 gols, e eles estão tentando superar o número do ano anterior – absurdos 137 gols. O que muita gente não sabe é que tem um brasileiro que precisa fazer isso constantemente. Não como adversário, mas como companheiro de treinos. Marlon, de 21 anos, está emprestado pelo Fluminense até o meio de 2017 ao Barça B, filial do Barcelona que joga a Terceira Divisão da Espanha. E ele já foi chamado várias vezes para completar treinamentos do time principal.
– É muito difícil marcar Messi, Suárez e Neymar. São jogadores de altíssimo nível, de outro planeta. O Messi então… Não tem como descrevê-lo. Parece que, quando ele quer resolver, ele resolve. Quando ele bota na cabeça que vai resolver, ele vai resolver. É um jogador incomparável, está muito acima. O Suárez e o Neymar estão no mesmo caminho. É muito difícil. E eu espero um dia não só marcá-los, mas sim jogar ao lado deles.
O estilo de jogo de Marlon, que reúne marcação, segurança e bom toque de bola, agradou ao técnico Luis Enrique de cara. Tanto é que o brasileiro participou de dois amistosos do Barcelona na pré-temporada, com Celtic e Leicester. Ele impressionou também a imprensa catalã, que o encheu de elogios.
Boa chance de jogar nesta terça e viajar a Manchester pela Champions
Em relação à temporada passada, o clube conta com um zagueiro a menos no elenco – eram cinco, e agora são quatro: Piqué, Umtiti, Mascherano e Mathieu. Portanto, é possível dizer que Marlon funciona como um quinto zagueiro do grupo. Ele foi inclusive relacionado para a Supercopa da Catalunha nesta terça-feira, onde o Barça enfrenta o rival local Espanyol com o time reserva, e tem grande chance de ser titular ao lado de Mathieu. Outra forte possibilidade é viajar para Manchester, onde daqui a uma semana o adversário será o City pela Liga dos Campeões, uma vez que Piqué está machucado e Mathieu, suspenso. Conquistar de forma definitiva um lugar na equipe principal é o principal objetivo de Marlon atualmente.
– Meu grande foco hoje é fazer boas partidas com o Barça B para estar com a primeira equipe o mais rápido possível. Mas claro que tudo tem o tempo de Deus. Isso é pouco a pouco, sei que as coisas são gradativas. As coisas para mim nunca foram rápidas, foram calmas, sempre fui correndo por fora. Não é agora que vai ser diferente. Tranquilo, com paciência, vamos trabalhar que, se Deus quiser, posso estar na primeira equipe logo.
Os jogadores do Barça B, assim como os jovens das categorias de base do Barcelona, são proibidos de dar entrevistas. A não ser na zona mista após as partidas, mesmo que de maneira rápida. O GloboEsporte.com, então, foi ao Mini Estadi – que fica ao lado do Camp Nou – para acompanhar o jogo entre Barça B e Sabadell no último sábado e conversar com Marlon. O time venceu por 2 a 0, e o zagueiro teve ótima atuação: foi bem atrás, ganhando a maioria das jogadas, e apareceu bem na frente, inclusive quase marcando um gol de cabeça ao fim do duelo, ele comentou a experiência.
– Está sendo muito produtiva, muito boa mesmo. Graças a Deus tenho me adaptado rápido. Aos poucos tenho pegado entrosamento com meus companheiros. E quando vou treinar com a primeira equipe é um sentimento diferente, sabe? É um sonho que eu tinha desde criança sendo realizado. Quando você chega para treinar com Neymar, Messi, Suárez, Iniesta, você fica super bem, à vontade. As pessoas te recebem super bem. Agora é dar sequência a essa adaptação, que está muito boa.
Marlon se diz muito adaptado à cidade de Barcelona. Natural de Duque de Caxias, morava no Rio de Janeiro e tinha de lidar com o caótico trânsito. Um problema que ele não tem mais.
– Aqui é um Brasil que funciona, né? Em todos os termos, meios de condução… A cidade está sempre funcionando. Você chega rápido em todos os lugares, não tem aquela loucura. Então, estou muito feliz aqui. Louvo a Deus por tudo isso que tem me proporcionado.
No que diz respeito à parte dentro de campo, a adaptação de Marlon também tem sido muito positiva. Para ele, a principal diferença entre Brasil e Europa é o espaço.
– No Fluminense você tem um pouco mais de espaço. O futebol brasileiro é um pouco mais espaçoso. Aqui, por conta da tática, o futebol é mais aproximado. Tenho me adaptado bem, graças a Deus, e agora é dar sequência.
Sem mágoa de Levir Culpi e sem planos de voltar ao Flu
A boa fase atual é uma vitória pessoal para Marlon, que era reserva quando saiu do Fluminense – o técnico Levir Culpi preferia Gum e Henrique como titulares. Mas o jogador não guarda mágoa. Pelo contrário, lida até muito bem com seu passado recente.
– Não fico chateado, fico tranquilo, porque são coisas que acontecem. Às vezes você fica no banco e quer ficar de cabeça baixa. Mas quando eu estava no Fluminense sempre preferia estar trabalhando, focado, porque sabia que alguma hora iria aparecer a oportunidade de vir aqui para fora. E ela apareceu. Estou muito feliz, como estava no Fluminense, só que aqui é diferente por eu estar jogando. Espero que eu possa fazer minha carreira aqui na Europa, com muita paciência, muito pé no chão e humildade, pois as coisas vão acontecer naturalmente. Nunca estive triste, cabisbaixo com nada. Pelo contrário, sempre muito motivado, para poder estar sempre da melhor forma possível.
Revelado em Xerém, Marlon tem contrato com o Fluminense até o fim de 2020, mas o foco não é voltar ao Tricolor. O Barcelona pode exercer o direito de compra do zagueiro até o fim do empréstimo pagando € 6 milhões (cerca de R$ 20 milhões) – se ele disputar pelo menos 45 minutos de cinco partidas com o time principal na temporada, a compra se torna obrigatória. Os catalães ainda teriam de pagar ao Flu mais € 2 milhões variáveis nos dois anos seguintes, caso o atleta cumpra algumas metas. Conversas sobre isso devem acontecer em breve, e a expectativa é boa. Afinal, Marlon está com moral em Barcelona.
Fonte: Globoesporte.com