Vitória por 3 a 0 sobre o Boavista, liderança isolada do Grupo B da Taça Rio, golaços, algumas vaias… tudo isso ficou em segundo plano em Volta Redonda, nesta quarta-feira. A noite foi de Julio Cesar. Treze anos e três meses depois, ele voltou a vestir a camisa do Flamengo e começou a contar o último capítulo de sua história como jogador de futebol.

É verdade que ele não teve muito trabalho. Mais observou, orientou e curtiu do que defendeu. Culpa exclusiva do Boavista, inofensivo na partida, diante da boa marcação rubro-negra. O que não quer dizer que a noite não foi repleta de ansiedade e emoção.

                                Braçadeira, discurso e emoção

Na chegada ao estádio, ansiedade. Julio Cesar admitiu que estava nervoso por voltar vestir a camisa e reencontrar a torcida do Flamengo. No vestiário, a surpresa. Amigos desde as categorias de base e companheiro em duas Copas da Mundo, Juan o chamou e o entregou a braçadeira de capitão.

Fui pego de surpresa pelo Juan, que disse que eu seria capitão. Ao longo da minha carreira, tinha sido capitão apenas uma vez. Fiquei feliz.

Com a braçadeira veio a emoção. Antes da partida, Julio Cesar tomou a palavra no vestiário

– Deu uma palavrinha. Foi uma coisa de coração, de momento. Nunca escondi, ao longo da minha carreira, o quanto eu sou emotivo. Em alguns momentos fui até criticado por isso. Mas cada um tem seu jeito de ser. Foi algo bastante positivo. Acho que tocou o coração de cada um.

                                                        O discurso

“Três meses atrás, eu liguei para essa rapaziada que estava aqui atrás de mim (não identificada no vídeo) pedindo para vir para cá. Porque (pausa emocionada) eu estava acompanhando vocês lá de Portugal (voz embargada) e queria participar desse grupo, desse novo Flamengo. E eles me deram essa oportunidade. Eu pedi, rapaziada, eles não me ligaram.

Vocês não sabem o sentimento que está passando dentro de mim (choro) por estar aqui revivendo um momento onde eu comecei. Quero aproveitar cada segundo com vocês. Sem sacanagem, o grupo é bom para c…, vocês são bons para c…, mas nada adianta se lá dentro de campo a gente não for concentrado, focado, respeitar essa camisa, esse clube que faz tanto pela gente.

Rapaziada, olha para o lado a qualidade que tem aqui. Então, eu peço que hoje encarem esse jogo com toda determinação, como temos que encarar, como se fosse jogo de Libertadores. Porque esse clube aqui eu sei, esse cara aqui sabe (Juan), os mais velhos sabem o quanto se cobra, o quanto cobram da gente. Então, não percam essa oportunidade de estar aqui hoje. Vamos com tudo. Beleza?”

                Orientação, carinho da torcida e “defesinha complicada”

Debaixo de um temporal, Julio Cesar entrou em campo para o aquecimento. Foi saudado e teve seu nome gritado. Ritual que se repetiu a cada toque na bola, até o apito final.

É verdade que não foram muito toques. O primeiro, por exemplo, foi aos 12 minutos, com os pés, para passar para um companheiro. Com as mãos, na primeira etapa, apenas para agarrar um chutão do Boavista, que chegou à área sem qualquer perigo. Nos primeiros 45 minutos, Julio limitou-se a observar e orientar, mesmo que timidamente.

Na etapa final, um pouco de trabalho. Julio Cesar cortou bem um cruzamento. O principal lance foi em chute de Tartá, aos 40 minutos.

– Uma defesinha complicada. A bola é muito leve e faz muita curva. Meu último jogo tinha sido em primeiro de outubro – descreveu.

No fim da partida, foi abraçado por todos os companheiros e ovacionado pelos torcedores presentes.

                                               Depoimentos

JUAN

O Julio é um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro e mundial. E tem essa história no Flamengo. Ele jogou em altíssimo nível na Europa, tem três Copas, é uma referência para os mais jovens. É um prazer jogar junto e acompanha-lo nesses três meses. Ele ainda tem muita emoção em vestir a camisa do Flamengo. Fiz questão que ele fosse o capitão. Hoje era o dia dele, estava emocionado. Ele pediu a palavra, é um cara que se emociona fácil. É legal ver um cara como ele se emocionar tanto antes de um jogo do Campeonato Carioca. É um cara multicampeão e deixa uma lição para todos que estão começando.

DIEGO

Foi extremamente prazeroso. Conversamos após o jogo. Foi a noite dele. Procurei externar toda a admiração que tenho por ele. Às vezes, no dia a dia, a gente esquece que estamos diante de um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro, de um dos maiores goleiros do mundo, campeão da Champions League. É uma referência para todos. Ele estava muito feliz e emocionado. Fez desse jogo o mais importante de sua vida.

CARPEGIANI

É um projeto do Julio e da direção, por tudo o que ele representa. Esse legado que ele tem para passar para a meninada no vestiário vale muito a pena. O importante foi a presença dele, por tudo o que representa no futebol mundial. No segundo tempo ele foi muito importante, com muita tranquilidade. Estou agradecido por essa presença que ele está tendo conosco.

E agora?

Na saída do estádio, Julio Cesar, ainda um pouco emocionado, falou sobre a alegria de voltar a vestir a camisa do Flamengo. Ele afirmou que quer sair com o título Carioca, reiterou a aposentadoria após os três meses de contrato, mas, em tom de brincadeira e com um sorriso no rosto, deixou o futuro em aberto.

– Cheguei ao Flamengo aos 12 anos. O Flamengo faz parte da minha formação como atleta, como homem. Acabei não ficando por problemas extracampo, tive uma carreira brilhante lá fora e voltei. Acho que eu merecia esse retorno por tudo o que o Flamengo fez por mim. Encontrei um Flamengo totalmente diferente, estruturado, mas profissional. A cobrança aumenta.

Quero curtir cada momento e me despedir com o Campeonato Carioca. Meu próximo jogo eu não sei. Agora é dia após dia, e o futuro a Deus pertence.
Fonte:Globoesporte.com
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