Após uma década de parceria ininterrupta entre as gestões estadual e municipal — boa parte dela entre o então prefeito Roberto Cláudio e o governador Camilo Santana, hoje adversários — o alinhamento entre petistas e pedetistas chegou ao fim em 2022 no Ceará. Sarto e a sucessora de Camilo, a ex-governadora Izolda Cela, ficaram em lados opostos no racha interno do PDT daquele ano.
Com a eleição e posse de Elmano, o distanciamento ficou ainda mais evidente entre as gestões, com acusações públicas de falta de diálogo e de fim do suporte administrativo. Roberto Cláudio foi além e acusou a gestão do PT de atrasar o desenvolvimento do Estado, afetando também Fortaleza.
“Como é que o governador vai pedir voto para alguém sem ter ajudado Fortaleza e ainda estar atrapalhando algumas coisas? A Prefeitura tinha um convênio de transporte público com o Governo do Estado para subsidiar a tarifa, o Governo foi lá e cortou; havia um convênio de microcrédito para mulheres, o Governo foi lá e cortou; o convênio do IJF, que atende metade da população do Interior, foi reduzido”
ROBERTO CLÁUDIOPresidente do PDT Fortaleza e ex-prefeito da Capital
EMBATE
As acusações do ex-prefeito se alinham aos embates entre Sarto e Elmano ao longo do ano passado. Uma das primeiras situações ocorreu já em fevereiro, quando o prefeito defendeu a “repactuação” entre a Prefeitura, o Estado e o Governo Federal sobre o financiamento do Instituto Doutor José Frota (IJF).
Em março, nova troca de farpas ocorreu quando Sarto atribuiu o aumento das passagens de ônibus da Capital ao fim de um subsídio do Governo do Estado. Já no segundo semestre, a conclusão da obra da Ponte dos Ingleses e o surgimento de uma mancha no mar da Praia de Iracema, por conta do esgoto despejado no local, colocou as duas gestões em rota de colisão.
“Não é só não estar fazendo por Fortaleza, é estar atrapalhando o dia a dia da cidade. Graças à organização financeira da gestão do prefeito Sarto, graças às condições próprias da Cidade, a resposta do prefeito foi, ao invés de estar reclamando, fazer, fazer por ele e pelo que o Governo precisava estar fazendo”
ROBERTO CLÁUDIOPresidente do PDT Fortaleza e ex-prefeito da Capital
Os chefes do Executivo da Capital e do Estado chegaram a ensaiar uma aproximação. Em 2 de agosto, eles tiveram um encontro no Palácio da Abolição, sede do Governo do Ceará. Contudo, em entrevista no fim do ano passado ao PontoPoder, Sarto revelou que essa foi a única reunião entre os dois.
OPOSIÇÃO
Autodeclarado opositor do governador Elmano de Freitas, o ex-prefeito também criticou o trabalho do petista após um ano e três meses de gestão.
“O Ceará está atrasando em algumas dimensões, uma delas é econômica, o PIB, os empregos, as fábricas fechando, a indústria… Vamos para a saúde, temos dois hospitais regionais que estão inaugurados há dois ou três anos pela metade, além do Hospital da Uece, prometido em verso e prosa. Na segurança pública, o número de chacinas deste começo de ano é recorde”, disse.
O pedetista ponderou que não “torce contra o governador”. “Mas como é que você pega um Estado em uma situação financeira dificílima e cria 17 secretarias no começo de Governo para resolver o assunto dos políticos e dos aliados que apoiaram na eleição? Você não faz isso nem em começo de Governo com o Estado saudável, ainda mais com o Estado em crise”, concluiu.
O Governo do Ceará, por meio de sua assessoria de imprensa, foi procurado no início da tarde de sexta-feira (8), mas não houve retorno.