O treinador, que ainda não foi preso, também ameaçou de morte uma das garotas caso ela não se saísse bem em um jogo, conforme áudio enviado à jogadora e ao qual o g1 teve acesso.
Depois que as vítimas denunciaram os assédios sofridos, o treinador chegou a falar com algumas delas dizendo que tinha contratado um advogado e que as jogadoras “estavam destruindo a carreira dele”.
“Ele aplicou uma pomada no meu tornozelo e subiu para o joelho. Eu achei estranho porque eu tinha relatado que era só no tornozelo que estava doendo. Quando ele pegou assim no meu joelho, mostrou um dos ligamentos e subiu a mão dele para a minha virilha, bem próximo da região [íntima]. O tempo todo eu estava com a mão segurando para ele não tocar em nenhum momento, até que ele puxou minha mão”, relatou uma vítima.
Ela disse que, em seguida, o treinador trancou a porta do quarto em que eles estavam e depois sob o corpo dela.
“Já era em torno de 17h30 da tarde e nenhuma das meninas ia aparecer mais, ele trancou a porta e voltou para o quarto. No quarto ele deitou por cima de mim e disse que era um trabalho para acelerar o coração para saber como é que meu coração estava para saber se eu podia jogar bola. E nesse trabalho de aceleração ele passava todo o tempo pinando em mim”, contou.
Ameaça e palavrões
O áudio que o g1 teve acesso mostra o treinador usando palavras obscenas ao falar com uma atleta. Ele ameaça a jogadora de morte.
“Deixa a *** com as bobagens dela que o *** dela é cabeludo. Ela não raspa nem o *** dela. Tu não. Se tu ficar com bobagem aí, eu mando te matar, viu?”, diz o áudio enviado pelo treinador.
Ao g1, o advogado do treinador disse que ele só vai se manifestar “em momento oportuno” e que o profissional ainda não foi intimado a depor sobre o caso. Segundo a defesa, as denúncias são “os que as jogadoras acham se tratar de assédio”.
A Polícia Civil afirmou, em nota, que apura a denúncia como crime contra a dignidade sexual. O caso é investigado pela Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dceca).
Toques íntimos e palavras obscenas
Uma vítima afirmou que o treinador pedia para que as atletas deitassem em camas e deitava sobre elas. Como justificativa pelo ato, ele dizia fazer parte de um “trabalho de aceleramento de coração”.
“Ele mandava a gente deitar na cama e ele deitava por cima da gente. No meio do que ele se deitava por cima da gente, ele meio que fazia gestos e pinava [toque obsceno com a genitália sob a roupa] na gente como se tivesse em uma relação sexual. Em todo tempo a gente pedia para ele parar e ele não saía”, relatou uma vítima.
Ela acrescentou que, quando sofria dor no tornozelo, o treinador pediu para que ela trocasse o short e passou uma pomada na virilha dela, chegando a tocar em sua parte íntima.
“Eu achei estranho. Ele puxou meu short e disse: ‘troca teu short porque esse teu short vai incomodar no trabalho. Aí ele me deu um bem largo. Peguei o short, troquei e ele passou pomada na minha virilha. Quando eu menos pensei, ele estava querendo colocar a mão [na parte íntima]”, contou.
Em um vídeo ao qual o g1 teve acesso, o professor faz uma massagem nas coxas da jogadora, aproximando a mão da virilha. Quando ele percebe que está sendo filmado, ele tira o celular da jogadora.
A jovem relatou, ainda, que o treinador pegava na sua cintura, dava “tapas na bunda” e passava a mão nas penas dela. Tudo também acontecia com outras atletas.
“Ele dava tapa na minha bunda, apertava minha cintura, ficava dando em cima de mim na frente das meninas. E quando eu estava sozinha com ele era muito pior, porque ele passava a mão na minha virilha, ele apertava as minhas coxas, passava a mão bem próximo da região [parte íntima]”.
A atleta disse ao g1 que sempre pedia para o que o treinador parasse com os atos e que só não saía de perto dele devido a ameaças.
“Eu sempre pedia para ele parar, só que eu não saía por causa de uma ameaça que ele fez a mim; se eu contasse para alguém eu ia sair do time, ele ia fazer muito pior com as meninas, e eu tinha uma irmã de 13 anos lá.”
O clube feminino treina em uma antiga escola no centro de Fortaleza, onde ocorrem os casos de abuso, conforme a denúncia.