Uma facção criminosa originária da Paraíba, de nome Nova Okaida, começou a atuar no Ceará. O ingresso no Estado foi descoberto pela Polícia Civil do Ceará (PCCE), que deflagrou uma operação contra a organização criminosa, em junho deste ano. No último dia 2 de julho, o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou 22 integrantes da facção.
A Vara de Delitos de Organizações Criminosas, da Justiça Estadual, recebeu a denúncia do MPCE na íntegra, e todos os acusados viraram réus no processo, por crimes como organização criminosa, tráfico de drogas e associação para o tráfico (conforme a participação individual), no último dia 9.
“Estão expostos fatos que, em tese, tipificam os delitos em que foram enquadrados os denunciados, afora estar o processo acompanhado de indícios de materialidade e de autoria, a justificar o início da ação penal”, diz a decisão judicial.
A investigação policial descobriu que a facção Nova Okaida já estava instalada nos municípios cearenses de Baixio e Ipaumirim, que ficam na divisa com a Paraíba, próximo de cidades paraibanas que têm o tráfico de drogas dominado pela organização criminosa.
Um dos réus da ação penal é apontado como o principal responsável pela instalação de células da facção paraibana nas duas cidades cearenses. Fabrício Gomes Cândido, conhecido como ‘FB’, integrava a facção cearense Guardiões do Estado (GDE), mas “rasgou a camisa” (trocou de facção) quando chegou ao presídio Colônia Penal Agrícola, no Município de Sousa, na Paraíba.
A organização criminosa foi alvo da Operação Continere, deflagrada pela Delegacia Municipal de Ipaumirim, com o apoio do Departamento de Polícia Judiciária do Interior Sul (DPJI-Sul), no dia 4 de junho deste ano. A Polícia cumpriu 46 ordens judiciais (sendo 22 mandados de prisão preventiva e 24 mandados de buscas e apreensão), nos municípios de Ipaumirim (CE), Baixio (CE), Cajazeiras (PB), São João do Rio do Peixe (PB) e Cachoeira dos Índios (PB).
SAIBA MAIS SOBRE A FACÇÃO PARAIBANA
A palavra “Okaida” é uma referência à pronúncia do nome da organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda, considerada por muitos países como um grupo terrorista, que tem como um dos fundadores Osama Bin Laden – apontado como idealizador do ataque às Torres Gêmeas, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, e morto por forças militares norte-americanas em 2011.
A imagem de Bin Laden é utilizada como símbolo da facção Nova Okaida, inclusive em grupos de membros da organização criminosa na rede social WhatsApp, segundo a extração de dados de aparelhos celulares dos investigados, autorizada pela Justiça do Ceará.
Conforme a Polícia Civil do Ceará, a Nova Okaida “é a maior facção criminosa com atuação no Estado da Paraíba, é resultado de dissidências das antigas Facções Okaida e Okaida RB e comanda o tráfico de drogas em todo o estado”.
O “Relatório do Mapa de Orcrim”, da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), do Governo Federal, de 2023, mapeou 72 facções criminosas presentes no Sistema Penitenciário brasileiro.
Na Paraíba, segundo o documento, estão presentes as facções Nova Okaida, Estados Unidos, Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC) e Bonde do Cangaço. Já no Ceará, existem o CV, o PCC, a GDE, o Terceiro Comando Puro (TCP) e o Tudo Neutro (também conhecido como Massa Carcerária).
A Nova Okaida é uma rival histórica da facção Estados Unidos – que se aliou na Paraíba ao Comando Vermelho, segundo reportagem do G1 Paraíba, de abril deste ano. Entretanto, nos últimos anos, a facção que utiliza imagens de Bin Laden tem combatido principalmente o Primeiro Comando da Capital.
Os investigadores cearenses, inclusive, encontraram uma música composta por integrantes da Nova Okaida, na rede social YouTube. A letra cita ‘FB’ e outros acusados de instalar a facção no Ceará e diz que o grupo “é vera caçador de PCC” e que “o Ceará tá dominado”. “É a Nova Okaida, a facção expandiu por todo território do Ceará, bota a cara alemãozada”, complementa a letra.
Diário do Nordeste