Após 21 anos, Marcos William Herbas Camacho, conhecido como ‘Marcola‘ e apontado como a maior liderança de uma facção criminosa paulista, foi inocentado pela Justiça Estadual por um roubo milionário contra uma empresa de valores, ocorrido em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Outro acusado também foi inocentado e um terceiro, condenado a prisão.
A 3ª Vara Criminal da Comarca de Caucaia proferiu a sentença na última segunda-feira (1º). ‘Marcola’ e Francisco de Assis Barroso Braga, o ‘Canindé’, foram absolvidos, enquanto Josimar de Assis, o ‘Fusquinha’, foi condenado a 24 anos e 6 meses de prisão, em regime inicialmente fechado, pelos crimes de roubo e extorsão mediante sequestro. Entretanto, o juiz permitiu que ele recorresse da sentença em liberdade.
Conforme a acusação do Ministério Público do Ceará (MPCE), ‘Marcola’ teria participado do sequestro de um funcionário da empresa de valores Nordeste Segurança de Valores (NSV) e de familiares, seria um dos responsáveis pela guarda dos reféns em cativeiro e ainda teria participado da invasão da sede da empresa, na posse dos reféns, em 18 de fevereiro de 2000. Foram roubados cerca de R$ 1,4 milhão.
Entretanto, a defesa de ‘Marcola’ alegou que ele estava preso no dia do roubo, na Casa de Custódia de Taubaté (SP), onde chegou no dia 19 de julho de 1999; e ainda que ele não conhecia os demais denunciados nem as testemunhas do processo.
“A prova colhida durante a instrução criminal não foi capaz de apontar de forma induvidosa as acusações formuladas pelo Ministério Público”, atestou o juiz para absolvê-lo. ‘Marcola’ está, hoje, preso na Penitenciária Federal de Brasília, por outros crimes.
Outros acusados
Também por falta de provas, o juiz da 3ª Vara Criminal da Comarca de Caucaia absolveu ‘Canindé’. Segundo a denúncia do MPCE, ele era um dos responsáveis pelo roubo de veículos que foram utilizados no assalto e dirigira um dos automóveis na fuga.
Porém, ‘Canindé’ comprovou a Justiça que não tinha conhecimento dos crimes e apenas guardou um veículo utilizado no roubo milionário em um asilo próximo da sua residência, a pedido de ‘Fusquinha’, que confirmou o pedido e negou a participação do outro réu nas ações criminosas.
Já sobre ‘Fusquinha’, o magistrado concluiu que “a prova colhida se mostra robusta, não havendo dúvidas acerca da autoria dos delitos”. Para o Ministério Público do Ceará, o criminoso tanto participou do roubo de um veículo utilizado no assalto, como também esteve no local do cativeiro onde os reféns foram mantidos e ainda invadiu a empresa de transporte de valores.
Prescrição do crime
O julgamento do processo contra ‘Marcola’ ocorre oito meses antes do crime prescrever. A prescrição ocorreria 20 anos após o líder máximo de uma facção paulista ter sido novamente preso, em novembro de 2001, já que o juiz interrompeu o prazo prescricional da ação penal para os acusados que estavam foragidos à época. Ao total, 20 réus respondem pelo roubo milionário ocorrido em Caucaia.
O processo chegou a ter um conflito negativo de competência. A 3ª Vara Criminal de Caucaia enviou os autos para a Vara de Delitos de Organizações Criminosas – que trata de crimes que envolvem organizações criminosas – em 1º de agosto de 2019. Mas esta entendeu que também não era de sua competência e devolveu à Vara de origem, no dia 23 daquele mês, porque a lei que tipifica organização criminosa é de 2013, ou seja, foi criada após o roubo.
Roubo milionário
O grupo é acusado de roubar cerca de R$ 1,4 milhão da sede da Nordeste Segurança de Valores, localizada em Caucaia, na manhã de 18 de fevereiro de 2000. Conforme a denúncia do Ministério Público do Ceará, o crime foi planejado, a começar pela aproximação de um homem da irmã do supervisor de segurança da empresa, que aceitou participar do roubo por R$ 35 mil.
A quadrilha conseguiu a senha de acesso ao cofre e alugou imóveis no entorno da empresa para estudar a rotina do local. Para garantir o transporte e a segurança do grupo, foram roubados carros e executada uma série de sequestros contra familiares de funcionários da NSV. Um deles foi rendido e foi utilizado pelo bando para que os portões da empresa fossem abertos.
Os criminosos utilizaram armamento pesado, como metralhadoras, fuzis e granadas. Em posse do dinheiro, o bando fugiu para Sobral, na Região Norte do Ceará, onde um avião e um piloto aguardavam para saírem do Estado.
Aquela foi a segunda ação ousada de roubo da facção paulista no Ceará. Antes, em 1999, a facção teria levado R$ 6,3 milhões da empresa Corpvs Segurança. Os dois crimes serviram de aprendizado para a facção colocar em prática o maior furto da história do País à época, ao tirar R$ 164 milhões do Banco Central, em Fortaleza, em 2005, sem ninguém ser notado. Nos anos seguintes, crimes semelhantes foram registrados em outros estados e atribuídos à mesma organização criminosa.
Fonte: Diário do Nordeste