Washington. Os Estados Unidos e o mundo ainda tentam entender como o republicano Donald Trump conquistou a disputa pela Casa Branca, mesmo sem nenhuma experiência política, superando a democrata Hillary Clinton, em um terremoto político que leva o país e o mundo a um período de incerteza.
Trump venceu com ao menos 290 delegados, 20 a mais que os 270 necessários para chegar à Casa Branca. Hillary obteve apenas 228 delegados, uma impactante derrota para a ex-secretária de Estado. Os estados de Michigan e New Hampshire ainda estão pendentes.
O apoio maciço dos americanos brancos garantiu a vitória do republicano. Jornalistas, analistas e institutos de pesquisa subestimaram a força do chamado “angry white man”, o branco que se ressente dos efeitos da globalização e da imigração e que estaria em vias de extinção demográfica por causa do avanço populacional de hispânicos.
Esses mesmos analistas apostavam que uma explosão no voto latino levaria a democrata Hillary Clinton à Presidência.
Mas pesquisas de boca de urna apontam que 70% dos eleitores desse pleito eram brancos (são 62% da população), e apenas 12% negros (13% da população), 11% (17%) latinos e 3% (5%) asiáticos. Na eleição de 2012, 72% dos que foram às urnas eram brancos, 13% negros, 10% latinos e 3% asiáticos.
Ainda não se sabe como foi o comparecimento, porque não há números finais das eleições, mas segundo levantamentos preliminares, ao menos 55,6% dos eleitores votaram, diante de 58,6% em 2012. O voto não é obrigatório e alto comparecimento tradicionalmente significa mais votos a democratas.
Foram 58% dos brancos que votaram em Donald Trump -para eles , o único “não político”, aquele que consegue “sentir a dor” desses órfãos da globalização. Em 2012, Mitt Romney teve 69%. Hillary recebeu apenas 31% dos votos de homens brancos, enquanto Obama, apesar do preconceito racial que ainda vigora em muitas partes do país, teve 39%.
A maior força de Trump é justamente com a população rural (62%) e com homens que não concluíram o ensino superior (67%) -habitantes da chamada América Profunda, em Estados eleitoralmente cruciais como Michigan, Ohio, Pensilvânia e Virginia Ocidental, todos vencidos pelo republicano. Lá, fica o chamado Cinturão da Ferrugem, área afetada pelo processo de desindustrialização e transferência de empregos para o exterior.
Nesses locais, livre comércio é palavrão e a promessa de Trump de rasgar acordos, como o Nafta, foi recebida com aplausos.
A desconfiança em relação a Washington é generalizada. A boca de urna mostrou que 65% dos eleitores de Trump acham que o livre comércio está acabando com empregos nos EUA e 69% está insatisfeito ou com raiva do governo. “Amo aqueles com menor grau de instrução, eles são os mais espertos e mais leais”, disse Trump, em comício em Nevada.
Culpados
A campanha de Hillary já elegeu seus bodes expiatórios -o diretor do FBI, James Comey, que anunciou novas investigações sobre o servidor privado de e-mails de Hillary a poucos dias da eleição, e os candidatos de outros partidos, como o libertário Gary Johnson e a verde Jill Stein, que podem ter tirado votos decisivos em alguns Estados.
Mas o fato é que Hillary fracassou ao tentar reeditar a coalizão bem sucedida que elegeu o presidente Barack Obama. O resultado dessa eleição, numa primeira análise, explica-se mais pelo desempenho ruim de Hillary em Estados-chave do que pelas conquistas de Trump.
A vitória do republicano promete consolidar uma Suprema Corte conservadora, trazendo um alívio para os religiosos tradicionalistas, os defensores do porte de armas e os poderosos interesses financeiros.
Se Hillary tivesse vencido, a mais alta instância do Poder Judiciário americano, poderia ter tido uma maioria progressista pela primeira vez desde 1969.
Nordeste Notícia
Fonte: Diário do Nordeste